Vestir este leve dourado
Cintilante
Como um véu
Sobre os olhos.
A luz que atravessa
As nuvens
Prestes a irromper em chuva.
Desejo cegar
Os meus olhos
Nessas asas translúcidas
Do poente
Não quero mais ver
Ouvir
Essas mandíbulas de formiga
Mastigando rancor
À sombra da estátua de uma andorinha
Obesa.
Quero me enxugar
Do lodo cuspido por tais
Almas. Que fiquem
Em seus corredores
Remoendo, dizendo
Sins e nãos
Com as mãos.
Que sequem as lágrimas
Com a terra impura
De seu terreno
Baldio.
Meus olhos serão minhas lentes –
Não vou me salvar
Mas não ouvirei seus lamentos
E aplausos
Ranhetas
À sombra da tarde, do ocaso
Da vida.
4 comentários:
Mais uma da série: " e não me venha com ninharias diante do absoluto." :)
Gostei muito. Um pequeno trecho eu mexeria - "mas não ouvirei" se afasta muito da fala. "Mas não vou ouvir" ou algo assim, pra mim, trazia o poema pra fala que ele desenvolve.
Abração.
nesse caso gosto mais mesmo de ouvirei. fica melhor com o resto além de ter o lance: hei de ouvir, que é um pouco a idéia de futuro como ex-voto etc.
vou ouvir dá outra coisa. mas, enfim, vou pensar mais.
já mudei muita coisa por sugestão sua, quase sempre é o melhor a fazer!
Abraço.
rapaz, de repente é só a minha mania de querer ouvir tudo como uma fala, e o "ouvirei" me soando 'pomposo', desviou a fala do corriqueiro que mais gosto.
dá de pensar mesmo,porque o "ouvirei" tira um efeito, apesar de me incomodar no ouvido.
fica aí mais a dúvida, como sempre, do que uma certeza.
e é uma beleza a gente ter poemas que suscitem dúvidas, não? isso é um sinal de potência.
abração!
É estranho... por um lado, "vou ouvir" fica msis coloquial. Por outro, fica mais cacofônico também. Meu voto é no "ouvirei". É um poema imponente, parece cinzelado no mármore...
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