6/23/2013

Tento entender a natureza paradoxal do vazio. Não por intelectualismo, mas por acreditar que o entendimento pode ser a última alegria que resta. Vazio voraz habitado por dentes, dentro e fora, acima do visível imaginável e no mais profundo de si. Escavando emoções, corroendo corpos, limando o tempo – dentes de matéria sólida ou luminosa, indiferentes à natureza do seu alimento.
No abrigo escuro do meu sangue, no coração hermético, um peixe sacia sua fome cravando seus dentes muito finos, enquanto eu respondo sempre igual: “tudo legal”.


***

Eu e Torquato caminhamos por uma rua, chão de areia, luzes amarelas, leve ladeira. Ouvimos o rumo do mar. Uma civilização extinta nos observa pelo telescópio. Pergunto se o excesso de vitalidade pode matar alguém. Quando não há o que ser acusado por nosso destino. Esses observadores são tão impassíveis quanto nós, quando olhamos as pedras no fundo de um rio de águas muito frias. Poderiam ser nossos antepassados. Ou suicidas paralisados no último segundo. É como o caminho de mão única de uma música composta por um morto que te conhece tão bem: porque o ouvinte vivo devolve a aparência de vida para a voz que se consome – que se consumou.
De vez em quando passo por essa rua. Quando eu morrer, toda essa fantasmagoria vai comigo para o túmulo

3 comentários:

Rutemberg Veloso disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rutemberg Veloso disse...

Torquato Neto?

Daniel F disse...

isso mesmo, Torquato Neto. essa música aqui, pra ser mais específico
:
http://www.youtube.com/watch?v=13389UquLZ0

Abraço!