8/10/2013

Da série: Planetário de bolso

            Netuno

Uma fome nasce no mundo. Uma fome a mais. Procuram domá-la impondo-lhe um nome. João (amava) Teresa (que amava) Raimundo. Netuno. Ali onde havia uma equação. Onde cairia a maçã, se não houvesse um campo de forças à procura da maquinaria do universo, abstraindo-a. Sangue verde, formando uma pedra de gelo onde haveria a matriz de um coração. Despertar para o sonho é como inspirar antes de um mergulho: com os olhos ainda molhados, a luz azulada do dia. Para sempre ser intempestivo. Soprar verbos no horizonte demiurgo. Aqui começa a revolta: ventania contra as grades de um nome. Inútil procurar uma ordem entre essas frases. Um tridente, como toda invenção, antes foi objeto de sonho.


Júpiter
        Corpo lento em pesadelo, imenso e leve se move no espaço girando velozmente ao redor de si mesmo. A mania persecutória do escritor sabe que seus amigos não acreditam na sua escrita, que os outros poetas não acreditam na amizade ou se acreditam na escrita é por piedade amiga e que portanto como bons amigos não acreditam na sua escrita e que ele, apesar de todo ceticismo e auto-sabotagem, vai prosseguir escrevendo sem acreditar em nada, nem nos amigos e nem nos poetas e muito menos na própria escrita. O estranho paradoxo de um demônio inseguro. Giro ao redor de mim mesmo e me movo frontalmente, não saio do encalço de alguma coisa parecida com uma tempestade vermelha que dá o tom dos meus sonhos em que fujo de outra coisa ou tento capturar a vida, que sempre está à frente, afrontando-me adiantada em estado de miragem perpétua. O que se vê de mim são as garras tentando capturar o vazio, a fraqueza do soberano que se retira e parte para o exílio no oceano noturno.   

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