A clivagem é
real: de um lado, o cotidiano, de outro você que tá vendo é quem me diz. Desde
o começo, os observadores viram os cometas com sinal de mau agouro, porque eles
simplesmente atravessam a geometria desejada por testemunho da racionalidade do
mundo, como arranhões na consciência de deus. Só que é o seguinte: quando eu
enlouquecer não será como essa situação patética de pessoas tentando se agarrar
a qualquer pedaço de realidade, como se despencassem de um barranco e
misturassem terra e sangue em suas unhas, despertando piedade de quem está
acima, aparentemente seguro no chão. Não: vai ser de uma vez: não interessa
mais se as portas estão abertas ou trancadas, não interessa mais saber se você
foi rude com a vida ou a vida foi rude em você: se o mundo desmorona à sua
volta, você deve desmoronar mais profundamente, até romper o chão e abrir uma
cratera, se as pessoas enlouquecem, você deve procurar a loucura mais
definitiva que faça, da loucura alheia, prova de sanidade, é deixar que as
pedras que guardam estilhaços de sentimentos sejam polidas na água fria de um
fluxo qualquer no éter cósmico até se tornarem pontiagudas e perigosas, que
todos se mordam e arranquem pedaços de carne com seus dentes de granito, você
deve assumir a sua condição e o seu destino acéfalo e chutar a parede até que
as bocas que vomitam pequenas ofensas sangrem nos seus pés, você deve ser o
primeiro a reconhecer que todos os muros gravitacionais são indestrutíveis e se
afundar em gestos tão irrisórios de doido que bate a cabeça e que as manchas de
sangue não transmitam qualquer mensagem, isso se ainda te resta alguma
dignidade.
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