9/14/2013

A clivagem é real: de um lado, o cotidiano, de outro você que tá vendo é quem me diz. Desde o começo, os observadores viram os cometas com sinal de mau agouro, porque eles simplesmente atravessam a geometria desejada por testemunho da racionalidade do mundo, como arranhões na consciência de deus. Só que é o seguinte: quando eu enlouquecer não será como essa situação patética de pessoas tentando se agarrar a qualquer pedaço de realidade, como se despencassem de um barranco e misturassem terra e sangue em suas unhas, despertando piedade de quem está acima, aparentemente seguro no chão. Não: vai ser de uma vez: não interessa mais se as portas estão abertas ou trancadas, não interessa mais saber se você foi rude com a vida ou a vida foi rude em você: se o mundo desmorona à sua volta, você deve desmoronar mais profundamente, até romper o chão e abrir uma cratera, se as pessoas enlouquecem, você deve procurar a loucura mais definitiva que faça, da loucura alheia, prova de sanidade, é deixar que as pedras que guardam estilhaços de sentimentos sejam polidas na água fria de um fluxo qualquer no éter cósmico até se tornarem pontiagudas e perigosas, que todos se mordam e arranquem pedaços de carne com seus dentes de granito, você deve assumir a sua condição e o seu destino acéfalo e chutar a parede até que as bocas que vomitam pequenas ofensas sangrem nos seus pés, você deve ser o primeiro a reconhecer que todos os muros gravitacionais são indestrutíveis e se afundar em gestos tão irrisórios de doido que bate a cabeça e que as manchas de sangue não transmitam qualquer mensagem, isso se ainda te resta alguma dignidade.

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