O
campo de visão se fecha, mas não no sentido habitual de quando fechamos os
olhos, de cima para baixo e de baixo para cima, mas lateralmente. Os olhos são
ampulhetas que funcionam numa lógica não gravitacional, a areia, a passagem do
tempo, corre dos lados para o centro. A poeira vai além, chega até a mente e
onde o corpo faz conexões com a alma. Apago-me. Não sei ao certo se ainda
enxergo qualquer coisa quando começo a cair. Acordo com o queixo aberto, dentes
molares arrebentados. Que despertador foi esse que usaram para me acordar, uma
porrada como se estourassem bumbos por dentro do cérebro: é minha cabeça
batendo no chão.
Caio
em mim como alguém que cai em si.
*
No dia em que Napoleão nasceu eu acordei com uma
pequena dose de mau humor. A luz atravessava Brasília como uma névoa
translúcida – um clima de sonho. Eu era perseguido, em cada fantasma
havia um coração alheio que era meu também e estranhos pulsavam em meu coração.
Alguém planejava um atentado terrorista contra a biblioteca da universidade
enquanto um jornalista ensinava como se precaver contra a meningite: poder é
perversão de senadores dendrofílicos. Nunca me esquecerei desse dia em que
Napoleão nasceu, acontece sempre, sempre retorna – era uma terça-feira. O
calendário às vezes me deixa doido da vida.
Se Napoleão Bonaparte era um louco que acreditava ser Napoleão
Bonaparte, eu é um poeta que acredita ser um louco desejando ser um poeta louco
à deriva pelo calendário enquanto se escreve isso, numa terça-feira, dia de
nascimento do Napoleão Bonaparte na sua loucura, leitor.
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