9/04/2013

Alguns espelhos do tempo

O campo de visão se fecha, mas não no sentido habitual de quando fechamos os olhos, de cima para baixo e de baixo para cima, mas lateralmente. Os olhos são ampulhetas que funcionam numa lógica não gravitacional, a areia, a passagem do tempo, corre dos lados para o centro. A poeira vai além, chega até a mente e onde o corpo faz conexões com a alma. Apago-me. Não sei ao certo se ainda enxergo qualquer coisa quando começo a cair. Acordo com o queixo aberto, dentes molares arrebentados. Que despertador foi esse que usaram para me acordar, uma porrada como se estourassem bumbos por dentro do cérebro: é minha cabeça batendo no chão.

            Caio em mim como alguém que cai em si.  

*

No dia em que Napoleão nasceu eu acordei com uma pequena dose de mau humor. A luz atravessava Brasília como uma névoa translúcida – um clima de sonho. Eu era perseguido, em cada fantasma havia um coração alheio que era meu também e estranhos pulsavam em meu coração. Alguém planejava um atentado terrorista contra a biblioteca da universidade enquanto um jornalista ensinava como se precaver contra a meningite: poder é perversão de senadores dendrofílicos. Nunca me esquecerei desse dia em que Napoleão nasceu, acontece sempre, sempre retorna – era uma terça-feira. O calendário às vezes me deixa doido da vida.  Se Napoleão Bonaparte era um louco que acreditava ser Napoleão Bonaparte, eu é um poeta que acredita ser um louco desejando ser um poeta louco à deriva pelo calendário enquanto se escreve isso, numa terça-feira, dia de nascimento do Napoleão Bonaparte na sua loucura, leitor.

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