Deito-me na grama e meu corpo se enraíza na terra,
puxado para dentro do lodo, sangue e carne misturam-se à seiva e ao verde
vegetal e disso brota uma nova árvore, uma espécie impossível mas real repleta
de inúmeras flores com pétalas variadas, desconexas – como ruínas dos manuais
de botânica. Essas flores pendem dos seus galhos e brilham noturnamente – vista
à distância essa árvore parece conter em si uma forma incoerente de planetário,
um tipo nascente de harmonia para um cosmos que não está no passado e sim no
futuro. Ela transpira um silêncio tranquilizador e uma ilusão de algo que
adormece: muitos animais vêm repousar à sua sombra. De suas folhas e raízes se
produzem chás calmantes e alucinógenos. Mas, com meu corpo fertilizando no
lodo, essa árvore dói, suas raízes se agarram ao meu peito e não consigo me
acomodar e perco o sono. As garras se espalham em meus pulmões e são agulhas e
quase não consigo respirar. Se me movimento, a pele é rasgada: tenho o corpo
mais riscado do que um mapa antigo e todo rasurado. Não sei como será quando
essa árvore começar a dar frutos e eles caírem no solo: arderão como ácido,
corroendo mais a minha pele? Ou aliviarão, como mãos que afagam, essa tarefa
que não escolhi e para a qual não fui preparado?
Nenhum comentário:
Postar um comentário