9/30/2013

Deito-me na grama e meu corpo se enraíza na terra, puxado para dentro do lodo, sangue e carne misturam-se à seiva e ao verde vegetal e disso brota uma nova árvore, uma espécie impossível mas real repleta de inúmeras flores com pétalas variadas, desconexas – como ruínas dos manuais de botânica. Essas flores pendem dos seus galhos e brilham noturnamente – vista à distância essa árvore parece conter em si uma forma incoerente de planetário, um tipo nascente de harmonia para um cosmos que não está no passado e sim no futuro. Ela transpira um silêncio tranquilizador e uma ilusão de algo que adormece: muitos animais vêm repousar à sua sombra. De suas folhas e raízes se produzem chás calmantes e alucinógenos. Mas, com meu corpo fertilizando no lodo, essa árvore dói, suas raízes se agarram ao meu peito e não consigo me acomodar e perco o sono. As garras se espalham em meus pulmões e são agulhas e quase não consigo respirar. Se me movimento, a pele é rasgada: tenho o corpo mais riscado do que um mapa antigo e todo rasurado. Não sei como será quando essa árvore começar a dar frutos e eles caírem no solo: arderão como ácido, corroendo mais a minha pele? Ou aliviarão, como mãos que afagam, essa tarefa que não escolhi e para a qual não fui preparado?   


Nenhum comentário: