Perpetuamente encoberto por nuvens corrosivas e densas:
a dor e a luta criadora enviam sinais para captar em troca alguma ressonância
que aplaque nossa condição ínfima: já que a proximidade do sol interdita a
visão direta: o chão cavernoso de Vênus: o universo é um palácio de vozes
desejantes:
espelhos em forma de conchas capturando ecos obscuros de
nossa condição: sacerdotes bendizem, exorcizam, dizem que curiosidade é pecado:
que os ecos denotam um serpentário e que a febre vem de veneno e não do perfume:
ainda assim nós caímos, indefinidamente – curtindo a sedução de uma língua onde
palavras sempre estão por nascer: e colhemos os frutos impossíveis que brotam
daquele solo inóspito e nos tornamos a carne daquele solo: só lamentamos que
não sejamos mais fortes para provar toda sua força corrosiva e renascer,
perpetuamente:
que vontade louca e muito humana de se mandar dessa
terra sem graça, com leis e com reis.
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