/ por Mar Becker /
aqui
onde os espelhos se turvam como luas órfãs
e os úteros caem da árvore da ciência do bem e do mal
e rolam no chão
e rolam
infinitamente
aqui
onde os santos nascem com ralos
no lugar das bocas
e os cabelos são farpas de algum alfabeto de arame
medusas em aço
inoxidável
aqui
exatamente aqui
onde as camisolas das irmãs carmelitas giram em torno do animal
como satélites
suplícios
o boi que eu mesma abati
e pendurei no gancho
vi sangrar até o fim
vi que não fechava os olhos depois de morto
nas bocas vivem centenas de gritos
nas cabeceiras das camas estão os terços
e elas se acordam à noite
e os rebentam
e os rebentam
as contas rolam no chão como úteros em miniatura
como luas órfãs
como olhos de bois mortos
Um comentário:
Forte e imprevisível, como sempre.
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