6/27/2014

[SEM TÍTULO]


/ por Mar Becker


aqui

onde os espelhos se turvam como luas órfãs
e os úteros caem da árvore da ciência do bem e do mal
e rolam no chão
e rolam
infinitamente

aqui

onde os santos nascem com ralos
no lugar das bocas
e os cabelos são farpas de algum alfabeto de arame

medusas em aço
inoxidável

aqui
exatamente aqui

onde as camisolas das irmãs carmelitas giram em torno do animal
como satélites
suplícios

o boi que eu mesma abati
e pendurei no gancho
vi sangrar até o fim
vi que não fechava os olhos depois de morto

nas bocas vivem centenas de gritos
nas cabeceiras das camas estão os terços
e elas se acordam à noite
e os rebentam
e os rebentam

as contas rolam no chão como úteros em miniatura
como luas órfãs
como olhos de bois mortos

Um comentário:

Daniel F disse...

Forte e imprevisível, como sempre.