4/19/2007

Duas Cidades

2. Brasília

1
Boca de clepsidra
Na garganta
Um clima de brasília.

2
No sinal de trânsito
malabaristas e a chuva
que não vai cair

3
nuvens sobre nuvens
cinzas de veludo. luvas
de pelica do inverno

4

março chuvoso:
dois carros esmagados
pelo velho abacateiro


5

nuvens baixas
sobre o edifício espelhado
pessoas ao trabalho:

um arco-íris e seu duplo.

3 comentários:

Aldemar Norek disse...

engraçado, Daniel, é que com mais dois versos -criando o número 6- eu ia pensar que vc se apropriou da matemática do I Ching em seu poema. Trigramas e hexagrama. Sem falar de algumas imagens (nuvens sobre nuvens, boca de clepsidra, etc.) A pintura da paisagem como espelho é bem interessante....não?

Cortar a si mesmo é um exercício muito válido, desbastar, podar. De repente aparece o essencial.

Daniel F disse...

Pois é Aldemar. Mas olha só, não sei nada dessa matemática I Ching, depois você me diz mais ou menos, se não for muito complicado?

Aldemar Norek disse...

Pô, isso era papo pra umas cinco horas tomando chopp. E depois da segunda hora eu já estaria trocando os números....rs.
Mas seria, é claro, um prazer.