acordo no meio da rua,
                                   qualquer uma
                                   das dez mil milhões de sujas
                                   ruas paulistanas
                                   um homem de terno azul
                                   marinho e óculos escuros
                                   e insígnia dourada na lapela
                                   me olha fixamente
                                   ele quer saber meu nome
                                   e me segue por todas as quebradas
                                   da cidade esquadrinhada.                    
                                   ele quer saber de onde venho
                                   e tem no bolso uma chave prateada
                                   e no pulso um relógio cravejado de dentes.                                   
                                   ele espalha a própria voz pelas vielas
                                   e pelos lustres de cristal do velho palácio
                                   sussurra falando cuspindo via rádio
                                   recitando poemas marioandradianos.
                                   - nesta cidade imensa e nenhum sobrenome?
                                   ele inquere.
na calçada onde escorre mijo
em frente à banca de óculos de sol
- são mais de trinta óculos olhando
angulosos traços na calçada,
ao som de balidos da última balada
de elton john .
3 comentários:
De fato você dialoga grande parte do tempo com o MA, e por uma via negativa.
E concordo com aquele seu post na Cronopios que o melhor Mário-poeta é o do Tietê, o final, desiludido.
Pra mim o problema não é o MA, mas o culto que se faz a ele em alguns lugares de Sao Paulo. Dele, gosto muito dos últimos poemas e dos últimos contos. O engraçado é que ele não gostava, queria chamar os Contos Novos de Contos Piores. MA tinha alguns receios com a "literatura".
Não tenho muita idéia deste culto em São Paulo em cima do ícone MA.
Minha relação com ele é boa, bem boa, até porque não faço a análise política dele (aquela adesão - necessária?- dele à nata da burguesia de então não me agrada mas não me interessa muito) - o que mais gosto no Mário são as cartas, estou com vários volumes dele de cartas aqui pra ler, na medida em que minha falta de método e minha dispersão permitirem. Ah, sim, e do último Mário tbm, o derrotado.
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