9/02/2007

Lord have mercy on me

Acredite, pessoa triste que me acompanha, a sua devastação pessoal é única e também cota no mercado comum das dores banais, tudo é o mesmo blog.

A alegria do Hotel em que te vegetaram, o Hotel neoclássico com letreiros dourados, ofende como se tudo fosse planejado contra você, como se cada lance de luz viesse ao mundo unicamente pra te deixar no outro lado, à sombra.

Você teria que acreditar que neste jogo o Hotel é a verdade, mas você sabe que aquela alegria só pode ser falsa, por ser impossível e você espera que as coisas tenham alguma coerência. Ainda mais “Alegria desesperada” sendo o tema da sua predileção.

(“Alegria desesperada”, ou seja: a vida em gotas caindo sobre a terra a 7 palmos de altura dando forma a paralelepípedos enquanto o Padre Vieira anuncia a libertação definitiva da cloaca do mundo pelo consumo de sangue em cápsulas de carnaval; ou ainda os coágulos votivos deixados pelos corsários aos pés de Nossa Senhora de Copacabana após o massacre fundador, um banquinho e um violão).

Você se justifica dizendo isso porque não encontra alternativa e é de uma ingenuidade brutal, apesar da malícia fingida. Você queria inventar um modo de se queimar por dentro, de sair deste círculo infernal de coisas que somente dizem que não, sem cair no ridículo da alegria desesperada que te ofereceram entre as várias opções do cardápio:

vai o afirmativo comum das filosofias de farmácia, ou o rótulo que diz outra e mesma coisa no rapto cotidiano da felicidade (otimismo que se lê), abre a boca e fecha os olhos.

Você queria isso tudo, essa outra coisa, sem perder a ingenuidade brutal (uma amiga um dia te disse, “você assusta as pessoas”). Pois é, mas você queria causar outro tipo de espanto. Por enquanto não consegue e deve ser por isso que se esconde na segunda pessoa.

Um comentário:

Aldemar Norek disse...

Daniel, gostei de toda a construção deste poema. Agora, o final é um desbunde.
abs....