5/25/2008

nº 79








Quando não tem fronteiras a tristeza
e o olhar de dentro do olhar
(fora de si) anda em busca do tempo
perdido, sem medo das arestas,
você percebe que não há
margens onde se possa por
os pés e parar (‘riscar uns versos
com o corpo, no ar
’) e que sua pele,
morta, restou além da fronteira
inevitável, no apagamento das bordas,
dos limites, no universo infinito e
agora contaminado por outro
infinito, o tempo, e a lama que carrega
o seu fluir, antes do fim da queda
você enxerga que o limite é só
você – cruzando a cidade, o vento
que toca sua pele já deslizou
pelos rebocos, folhas, espelhos, e aí
seu corpo é só outro objeto, carne
quente, fome, desejo, porque
o espírito é uma entre muitas
possibilidades, a que carrega
o espanto e a dor que você gostaria
de poder largar em qualquer
ferro-velho.




(das "Notas Marginais").

2 comentários:

Eliana Pougy disse...

Beautiful.

Aldemar Norek disse...

thanks.
bjs.