5/01/2008

Tango

levantado do chão
as retinas dormitam
onde o sangue bate mais forte
e a carne pulsa

por conseqüência:
dos quatro estados da alma
nenhum serenou
tangido feito um boi
no matadouro
o coração sem opções
vasculha o fundo e
lentamente
rumina

1996

3 comentários:

Daniel F disse...

Oi Aldemar, você deve conhecer esse tango aqui. é muito engraçado, vingativo e super-reacionário como quase todo tango, o seu não. nesse site aqui todotango.com dá pra ler muita coisa e ouvir as músicas. O problema é que basta umas 3 pra que me le den en los cornos, me canso rapido e volto pro meu rockinho fácil.

Abraço!


Cambalache
Tango
1934
Letra y Música (ir a la partitura): Enrique Santos Discepolo



Que el mundo fue y será una porquería
ya lo sé...
(¡En el quinientos seis
y en el dos mil también!).
Que siempre ha habido chorros,
maquiavelos y estafaos,
contentos y amargaos,
valores y dublé...
Pero que el siglo veinte
es un despliegue
de maldá insolente,
ya no hay quien lo niegue.
Vivimos revolcaos
en un merengue
y en un mismo lodo
todos manoseaos...

¡Hoy resulta que es lo mismo
ser derecho que traidor!...
¡Ignorante, sabio o chorro,
generoso o estafador!
¡Todo es igual!
¡Nada es mejor!
¡Lo mismo un burro
que un gran profesor!
No hay aplazaos
ni escalafón,
los inmorales
nos han igualao.
Si uno vive en la impostura
y otro roba en su ambición,
¡da lo mismo que sea cura,
colchonero, rey de bastos,
caradura o polizón!...

¡Qué falta de respeto, qué atropello
a la razón!
¡Cualquiera es un señor!
¡Cualquiera es un ladrón!
Mezclao con Stavisky va Don Bosco
y "La Mignón",
Don Chicho y Napoleón,
Carnera y San Martín...
Igual que en la vidriera irrespetuosa
de los cambalaches
se ha mezclao la vida,
y herida por un sable sin remaches
ves llorar la Biblia
contra un calefón...

¡Siglo veinte, cambalache
problemático y febril!...
El que no llora no mama
y el que no afana es un gil!
¡Dale nomás!
¡Dale que va!
¡Que allá en el horno
nos vamo a encontrar!
¡No pienses más,
sentate a un lao,
que a nadie importa
si naciste honrao!
Es lo mismo el que labura
noche y día como un buey,
que el que vive de los otros,
que el que mata, que el que cura
o está fuera de la ley...

Aldemar Norek disse...

Esta coisa do espírito da(s) época(s)....
Quase todo tango escorrega pra esta coisa dramática ao extremo.
Os que ultrapassam isto são a diferença.
Estou lendo uma tese de um amigo, que estabelece uma comparação entre os samba-canção "dor de cotovelo" (ou de corno) e a bossa-nova. É uma tese interessante, em que ele defende que a mudança radical, minimalista, da bossa-nova, com sua ausência de grandes saltos melódicos, com suas harmonias sofisticadas, que resultaram em muitas letras sofisticadas onde a dor de amor é mais suave,menor, e pressupõe a possibilidade de outro amor, e não a tragédia ou o drama absoluto de Lupiscínio e companhia. Uma nova sensibilidade que se formava.
Engraçado é que na poesia acontecia o concretismo (João Gilberto tem uma declaração absolutamente "concretista" sobre a sua forma de interpretação).

Dei a este poema o nome Tango exatamente porque sob ele tem este fundo dramático, lupiscínico (olha o neologismo aí....rs), embora cercado de dúvida acerca do próprio drama, e com a serenidade bovina no final....

Você já ouviu "Por una cabeza" do Gardel? A melodia (praia dele) é maravilhosa....

abração!!!!

Daniel F disse...

Oi Aldemar,

vou procurar essa música. Lendo de novo seu poema, achei que tem mesmo muito a ver com tango. Principalmente por causa do "lentamente/ rumino".

Quanto ao Lupicínio! é mesmo demais, o Augusto de Campos tem um texto muito bonito sobre.

Eu tinha um lp, Jamelão interpreta Lupicínio. Eu estava começando a beber, minha avó fazia uns licores muito bons e pra minha família de pinguços aquilo não era álcool. Foi na mesma época da minha primeira paixão, a garota era linda mas odiava nerds. Fiquei sabendo por uma amiga que ela disse que não namorava comunista. Era mesmo estranho: eu queria fundar um grêmio no colégio e o pessoal dizia que eu queria "implantar o comunismo na escola". Eu tinha uma máquina de escrever elétrica. Foi uma época muito dramática, com aquela música do médico e os bichos-de´-pé ao fundo.


Abraço!

Daniel