1.
Entre os meus planos mais secretos está o de me tornar assassino serial. Sei que isso não encontra eco nas teses de Freud, segundo as quais todo homem deseja (e precisa, metaforicamente) matar o pai – o meu resolveu aliviar este trabalho para mim: se suicidou, lenta e dolorosamente, como se estivesse coadjuvando um filme B. Anos depois descobri que todos estão, mesmo eu e você.
2.
Numa de minhas vidas paralelas escrevo e publico revistas populares com informações rápidas, banais e desnecessárias. Como quase toda literatura.
3.
No capítulo “Ditados Cretinos” escrevi à mão: “os olhos são as janelas da alma” e “os olhos são o espelho do mundo”. Para o primeiro caso soterrar cuidadosamente cada órbita. Para o segundo, furar os olhos, vazar os olhos, esfacelar os olhos. Como uma recusa.
4.
Furtivamente penetrar esferas privadas – se necessário lamber as partes mais sujas, como quem reconhece algo, pois é aí que se concentra qualquer história.
5.
Já fui também elefante, pantera, ornitorrinco. Agora me dedico às artes da sombra e emulo bichos peçonhentos.
6.
Ela escreve por aforismos, como se fundasse civilizações na bruma. Persigo encantado, sem chance de aproximação.
7.
Foi quando adotei o “Método das Realidades Paralelas”. Não posso dizer que o desenvolvi, não seria exato nem honesto, embora o tenha construído a partir de indícios que recolhi e sem qualquer auxílio exterior – mas esta revelação não possui qualquer relevância, uma vez que aquilo que apreendemos do real é quase sempre distorcido mesmo se nos movermos dentro dele como num plano único. Cada um de nós é um feixe de esforços que atravessa a sua superfície verticalmente, num sítio aleatório, e daí não se pode observar com precisão muito mais do que o entorno circundante e aparente. Como se não bastasse, o real se move: daí que o explodi em planos paralelos que se podem atravessar sucessivamente, não sem esforço. Apesar de fragmentar nossa já limitada percepção a um ponto praticamente insuportável, amplia fantásticamente a visão.
8.
Num plano sou um homem comum, refém do destino. Em outro penso sobre mais esta limitação. Num sou quem domina, noutro sou domado. Ora sou o que se esquiva. Num dos últimos sou “O Cisne”, mas este plano é nublado de modo intermitente pela metafísica.
9. Ainda na série Ditados Cretinos: “As portas da percepção etc...”.
10.
Não há regras aqui, e isso já foi dito.
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