10/12/2008

A viagem de Jean-Marie

Rio. Ipanema. Começo de agosto.
Ele chega
de avião.
O esforço da máquina
as rodas raspam o chão
a borracha adere ao asfalto.
Depois o carro atravessa
a cidade engarrafa as minúsculas
os casebres. O túnel
os grandes edifícios em torno
freiam o ar o som dilata
ao longe as montanhas iluminadas invadem
estraçalham a placidez
da lagoa.
Ele carrega o centro em si uma luz branca atravessa seus poros.
Ele ainda não chegou. Carrega sua
lógica intacta. A mala
cada peça de roupa usada guardará por um tempo o suor.
O trabalho com as mãos. O corpo. Perturbado.
E quando ele voltar
os olhos para trás
suas mãos trêmulas
resto de areia sob as unhas.
Quando ele voltar
então não haverá mais nada
entre ele e nós.


Quando ele voltar
a cabeça ainda para trás
O corpo que atravessou as ruas
passou as pernas pela água
salgada.


Quando ele voltar
retomará sua vida regular
seu croissant molhado no café
com leite.
Sua vida regular estará ainda
mais regularizada
a cabeça já estará virada
a origem.
Quando ele voltar
a cabeça ainda um pouco para trás
a enorme foto no metrô
a água azul
a areia branca longe
pelas mãos.

Um comentário:

Aldemar Norek disse...

Masé, belo retorno!

A sensação de deslocamento atravessa o poema, do início ao fim.
bjs