11/29/2008

Algumas brincadeiras com palavras (ou um adolescente aprendendo a escrever)

1º. Ato

O tempo dos Ipês

Em pleno ritual sagrado
as palavras seguintes baixaram
como uma pomba-gira.

Hoje de supetão minha filha perguntou:
"o que é o tempo"?
ela disse que para ela o tempo era o relógio
mesmo antes do relógio mecânico já existia o de
sol ela me disse.
O tempo é o relógio? (acho que ela queria me perguntar também)

Tentei explicar que sim e não. Fiquei sem saber o que fazer
foi aí que disse: o tempo são as flores do Ipê amarelo.
O tempo é relativo: qual é o tempo das flores do Ipê amarelo?
Acho que ela pensou: as horas do relógio do Ipê amarelo duram um ano
para florir,
os minutos uns meses florindo e os segundos são as flores caindo.

Fiquei com a imagem e a pergunta:
qual é o tempo dos Ipês?
qual é o tempo das suas flores?
belas flores
que florem o céu e a terra

Não há palavras e explicações!
queria ensiná-la a sentir os tempos
queria sentir os tempos

Pelo menos aprendi a desconfiar
e desconfio que o tempo caleidoscópico
dos Ipês é:
amarelo, branco, roxo e madeira.

2º. Ato

Me pedes que fale

Fale de sonhos

Vale a pena ter esperança em sonhar sobre ruínas?

Sem dúvida, o que são dos sonhos sem ruínas

E das runas sem ruínas.

Esperar a esperança, "desesperar jamais".

On toujours sait bien et n'est sais rien.

J'ai sais pas.

On moins il faut essayer d'être vivant.

C'est toujours : tous jours

Jolie la poésie en français mélange ( ?) avec le portugais ?

Ô pessoa e Pessoa ! essa alma minha partida, quer partir

Quer retornar a aparência. O devir me chama pela chama presente ausente

De um ser sendo ou nada.

A angústia do viver me contagia de forma a não saber o que sonhar.

Sonho os sonhos. Talvez meus sonhos sejam esperanças de pesadelos melhores?

Estou fora da morbidez. Estou dentro da espera, expectativa.

O problema é que não sei o que sou, nem vou saber.

O problema é que não sei o que quero.

Às vezes acho que não poderei ser feliz com expectativas pequeno burguês (também minhas) de uma família feliz.

Talvez a esperança resida, como você disse (dizendo das minhas indecisões, da minha incompletude completa),

Nos gatos.

Gatunamente para dentro e para fora. Vivendo o devir temporal da existência, felinamente com um simples e irônico

Só riso.

Só rindo mesmo!

Essas palavras a esmos são o que sou agora, hoje. Um homem

Um projeto de homem perdido com as palavras, a fim de ser

Apenas um pequeno burguês.

Em busca da felicidade da família.

Mas, sobretudo em busca do amor. Da completude incompleta eternamente do amor.

Amor: onde encontrá-lo? Em mim? Em ti? No universo?

Não sei, mas sairei pelas ruas agora em busca da resposta dos gatos.

Miau!

Desejaria ser

Mais irresponsável? Mais centrado? Mais eu? Cuida-te de ti: ô pobre mortal!

A mesma poesia que corre

Falta

Eterna falta!

3º. Ato

tem jeito que quer
acreditar
creditar
no amor

amor eu te perguntaria: vc é uma deusa traiçoeira?
vc é algo que se possa acreditar?
o que distingue vc da paixão?
por alguns amam e outros só tentam?
é preciso deixar nascer?

me dizem que é karma dessa vida e de outras
não tenho tino para o amor (a paixão me domina?)

quem queria acreditar no amor?
me falaram que queriam acreditar em ti: é possível?
é preciso ser crente?

não sabemos quase nada de ti amor,
mas sabemos que quando vc aparece
é a coisa mais linda que se viu passar

mas vc só passa? ou é possível permanecer?
parece que há alguns segredos que só alguns sabem
será que se eu for a terapia poderei começar a amar?

me diz aí amor pois tem uma amiga
que diz que quer
acreditar em ti

eu pelo menos to precisando saldar minha dívida contigo
para só então começar a usufruir de algum crédito
ho vida justa injusta me pq quero tanto descobrir
os segredos amor

se que é que há
haverás?

4º. Ato

> ENCONTRO COM O INSTANTE
> 
> tem certos dias que se encontra
> tem certos dias que se desencontra
> e, ainda, tem certos dias que se reencontra.
> 
> o melhor, quase sempre, é quando se encontra
> desencontra
> e reencontra
> de um só vez (dans seule coupe e couple!).
> 
> o sol que nascia com minha chegada ( à la maison)
> indicia que sim.
> indícios são os detalhes que tornam a beleza da vida tão
> bela como as muitas e relativas renascenças.
> 
> porém, só tempo
> universal, absoluto, humano e relativo
> dirá algo sobre o devir.
> 
> por enquanto:
> foi bom esse encontro
> quase-marcado.
> 
> o instante, essa partícula de tempo,
> é que faz que os encontros sejam simplesmente.
> eles (instantes e encontros)
> não são eternos como as especulativas bolsas femininas
> são apenas o vento a solfejar um perfume.

5º. Ato

2 comentários:

Aldemar Norek disse...

Falaí, Mateus, tudo bem?
Seja bem vindo ao nosso bangalô perdido nos territórios virtuais. Bem, virtuais sim, mas a gente tenta que a coisa cheire um pouco a suor e tenha algum calor de pele. Apesar de alguns de nós nunca nos termos visto ao vivo e a cores, o afeto está presente.

Ok,dito isto, segundo ato: gostei muito do que trata do tempo, da forma que você conduziu o pensamento, aparentemente aleatório e pra fora da lógica dos objetos.
Achei mesmo que todos os temas que você toca têm a ver com a alienação, com a sensação de alienação nas relações - com as pessoas, com o mundo - temas que são importantes pra gente aqui. Como também o das ruínas.
Bacana, gostei.
Vamos então em frente.
Grande abraço!
aldemar

M. disse...

Ademar, obrigado pelas boas vindas e pelos comentários. Espero contribuir de alguma forma por essas vendas ou seriam veredas? Um grande abs