3/29/2009

Inventário




Meus versos são banais e eu negocio
um prazo a mais, um sentimento urgente,
mesmo que vá ficar inadimplente
e o coração acabe assim vazio.
Acreditavam ser a Terra plana,
que acabasse o mar de forma abrupta
e outras ilusões que a vida oculta
na palavra que salva, e na que engana:
a palavra rejeita a força bruta,
o capital, o mercado, e outras delícias
que o olho vê e o coração perscruta.
Ando correndo atrás do prejuízo:
não sei ainda de fato o que preciso,
de vinho, de ambrosia ou de cicuta ...

Um comentário:

Aldemar Norek disse...

sabe, este negócio da forma fixa, de réguas e metros, acaba dando uma espécie de vertigem do infinitesimal, não sei se falo claro isso. o fato é que gosto muito daquele ponto em que forma e conteúdo se ligam sem que se possa separar. mas isso não rola só na forma fixa, ela é só uma das formas de fazer isso - uma certa poesia concreta faz isso, e certos versos livres idem - até porque não existe verso livre, existe uma outra ordem não explícita, talvez até mais complexa, debaixo da aparente liberdade.

gostei da sua viagem/Ítaca.

p.s. mesmo em textos em prosa, esta vertigem de que falei às vezes aparece e salta aos olhos - como no caso de Clarice Lispector, Osman Lins, Caio Fernando Abreu, e de filósofos como Nietzsche, que falam muito "a partir" da linguagem: não dá pra dissociar as idéias dele da forma dele falar (já que você mencionou o martelo, ainda que tenha subentendido a bigorna...rs)
abração.
aldemar