Quem diria a hiena do Cati ao chegar ao Rio causou o frisson de um sanguinário degolador, sedentos instintos brutais resguardados em moderna fortaleza medieval, na aridez gelada da fronteira sul, na paisagem do rio de mijo, das árvores cujos galhos são ossos humanos, das pétalas de flores que são dentes de hienas, onde os suicidas recorrem ao método feroz da autodegola
(reza a lenda a hiena arranca dentes, capa, degola e estupra inimigos, depois manda os soldados montarem acampamento sobre os cadáveres pra se acostumarem, estoicamente, ao cheiro da morte)
Quem diria a hiena do Cati, neste momento aqui entre nós não destoa do delicioso Chateu D’Yquem, do soberbo Mouton Rotschild e do lubrificante Bourgogne, aqui, entre estas taças o monstro lendário fica ridículo diante do homem
Quem diria a hiena do Cati veio ao Rio e se fez amigo do soberbo, delicioso e lubrificante Coelho Netto, quem vê a hiena nestes espelhos que se desdobram se misturam se multiplicam soberba e deliciosamente a lubrificante figura da hiena sorri feliz, brindemos aliviados, então o “monstro” é este homem!
Ele, o criador do mais moderno valhacouto de degoladores fala, com propriedade, de Zenão e Marco Aurélio? Ele, que já dormiu sobre corpos em decomposição, reconhece os mais finos perfumes? Um feroz criminoso lombrosiano, da mais baixa espécie? Um patriota? Um empresário e escritor?
Hoje, entre estes espelhos, uma lenda morreu, para o bem da humanidade.
Quando você é vulgar: apenas negocia convenções, não domina os segredos, qualquer um pode dizer que árvore é o nome de uma cidade, que cidade é o nome de uma arma, que arma é um sentimento, que sentimento é o nome de um faraó. A língua epistolar é a conversa vulgar no desentendimento, mesmo que este ocasione encontros repentinos e imprevistos. É quando uma criança autista diz pra você: se o mundo gira, porque você não fica tonto?
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5 comentários:
Tem uma frase do Dyonélio Machado que acho tem muito a ver com isto:
"Se eu dissesse que cada época tem o seu cheiro, ninguém estranharia...".
Legal o texto.
Abraço,
aldemar
é, tem mesmo. a escrita mais tradicional da história é muito boa pra outras coisas, mas não essas.
espero um dia dar conta disso, apesar de a academia sei não vai considerar que é história. e também não é literatura.
quanto ao Dyonelio, passei uns dias com ele aqui. mas lendo outras coisas, não a literatura. a história do hospício em que ele trabalhou (nuns trabalhos bem ruinzinhos), a tese de psiquiatria dele, sobre assassinato, e essa figura aí perdida do louco do cati, a "hiena". O Cel João Francisco.
Abraço,
Daniel.
Achei um livro sobre o Dionélyo e sobre a "confirmação" literária que pareceu bem interessante no GoogleBooks.
Se te interessar, mando o link.
Fico sempre interesado na relação escrita/vida.
Sobre sua pretensão, acho que você é a pessoa certa pra ir fundo no projeto. Entre história e literatura as diferenças são sutis, quando existem.
abração
aldemar
eu sou tataraneto do cel joão francisco
Seria possível publicar o artigo acima numa revista cultural independente de Livramento/RS, citando a fonte. Quem é o autor do artigo - pergunto.
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