eu queria te dizer
_______________
eu queria te dizer
assim
simples assim
como um poema do Bukovski
para que tu
não te fosses
e tu me verias
esticado
a boca aberta
num grito em pleno
mundo
o desespero só
como numa pintura
de Hieronymus Bosch
eu queria te dizer
mas eu
não sei dizer
mas mesmo
assim
eu queria
ou te demonstrar
em romaria
meu olhar meu olhar
o verde
platina
caído pelas bordas
eu queria te dizer
de alguma forma
como as bolhas
de sabão
e as de champanhe
são gêmeas
como o meu amor
teu nariz
e nossa temperatura
embaixo
nas noites de inverno
mas lembrei
que a única maneira
é te escrever
esse poema
para que nunca
te vás
mas eu vejo
a porta bater
teus cabelos
chanel alguma coisa
voarem
e então eu me sinto
mais só
do que eu já era
já era
e tu nem vais
ler esse poema.
Quando você é vulgar: apenas negocia convenções, não domina os segredos, qualquer um pode dizer que árvore é o nome de uma cidade, que cidade é o nome de uma arma, que arma é um sentimento, que sentimento é o nome de um faraó. A língua epistolar é a conversa vulgar no desentendimento, mesmo que este ocasione encontros repentinos e imprevistos. É quando uma criança autista diz pra você: se o mundo gira, porque você não fica tonto?
8/20/2009
eu queria te dizer
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
gostei muito deste poema, Anderson.
A questão da impossibilidade, que ele coloca o tempo todo.
Alguns enjambements, fortes e significativos.
A simplicidade de cada verso.
Forte abraço,
aldemar
Aldemar, eu quis trazer a concepção da poesia obetivista (não simplista) associada a autores como William Carlos Willims ou Jacques Prévert, ou seja, o poema simples é o mais difícil de construir, compor, passar imagens e/ou significados e significantes, pois pode cair em poema fácil ou descomprometido. Além disso é algo autobiográfico, franco, sem nenhuma intenção de ser mais do que ele é. Abraços.
Postar um comentário