Ó Belém-Brasília, BR 101,
Estrada bêbada entre o Itariri e o Sítio do Conde
Ó coqueiro onde ficaram os dentes
Do casal jogado com força pelo triciclo
Abafando as férias de janeiro.
Ó pinto de anjo, cara da marmanjo,
Engrenagem vazia feita por tubulações
Que são corpos de crianças, ó divina
Máquina de xérox.
Ó ti que quando escutas a palavra cultura vai logo sacando o seu re-
método, como remédio das cólicas bucólicas das ilhas da fantasia
Ó dentes presos na palavra
Globalização.
Ó invólucro sutil e crítico da escrita como álibi perfeito
Mastigador de tudo o que vomitas nas tubulações
Sob a forma de cloro pra que as famílias tenham hálito puro
Numa tese sobre o leite negro de Paul Celan e o preço abusivo
Das pousadas com piscina de água quente.
Ó conceitos misturados com método numa pedra de gelo
Numa dose de natu nobilis pras conversas sobre luto e melancolia
Nos hotéis que são o que resta dos colóquios
Sobre a guerra, as greves e a violência urbana e o conflito
Das notas de rodapé de barro vestidas como gerentes de bingo.
Ó cativador de calouros, promotor de trotes sob anestésico,
Que em tua larga mala carrega o saber como se fosse um bloco de concreto,
Vergado pelos sacrifícios de pasta dente e pelos exames
De fezes, Abençoa o meu currículo
E os meus furúnculos.
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