4/02/2010

Serenidade, de L M Panero

a Martin Heidegger

1.
Só existem duas coisas: meu rosto desfigurado
e a dureza da pedra.
A consciência se acende
Somente quando o ser está contra si:
e assim todo conhecimento
e a matriz de toda figura
é uma ferida,
e só é imortal
o que chora.
E a noite, mãe da sabedoria
tem a forma interminável do pranto.

2.
Luz, a luz
quando estava demasiado perto do mar
limite do deserto
do deserto em que florescem rosas cruéis
famintas do homem.

3.
As palavras
constroem o bosque
uma árvore só é árvore
quando tocada pelo poema.

4.
Os sinos varrem o som
enunciam letra a letra o deserto
em que uma flor apodresce entre as mãos
murchas de uma velha
que chora por ter perdido o nome.

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