À procura do coração das coisas
A procura incerta do coração das coisas
Quando o sujeito mergulhado no lodo quente
Quer pulsar, lento
Uma ferida se aprofunda a cada batida
E o universo é um emaranhado de corações
Em disritmia
À procura do coração das coisas
Mas elas não se confundem
Com a lentidão do sujeito mergulhado no lodo quente
Seu coração pulsa como flores negras
Iluminadas por dentro e opacas pelo silêncio.
O universo, em disritmia:
Quantos corações pulsam, indiferentes
Ao sujeito que diz procurar o coração das coisas
Quando o que ele procura é o seu ritmo
O ritmo lento de quem teme uma ferida mais profunda.
Se ele soubesse
Que cada coração é uma paisagem
Que cada coração é um anjo à procura do seu
Coração ferido, de anjo. Se ele soubesse
Ouvir o ritmo dos corações dele
Esquecidos e esquecido de si,
Se ele reaprendesse a ouvir a música das coisas
Sem linha melódica, apenas pulsações
Indiferentes a ele, é verdade, mas repletas
De anjos, se ele soubesse.
E ele sabe, é com você que estou falando,
Esteja você onde estiver, neste momento
Em que pulso essas palavras na tela
No ritmo do meu coração por um instante redimido,
Não saiba que ele sabe,
Não saiba que ele tenta captar, no coração das coisas,
Um ritmo parecido com o seu,
Não saiba: meu coração pulsa com o seu
Em outras paisagens, em silêncio e ausência.
Ele sabe que o meu desejo
Está fora de mim. Se ele soubesse –
E ele sabe – que é esta a alegria
De não escutar, mas saber que pulsam
Os corações das coisas.
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