11/01/2010

O nome dela é Autobiografia





Nem sei que tipo de musa ela é, o tipo que não diz nem desdiz, desenha signos sobre o corpo, ou inspira em mim o ar antes que as palavras saiam manchadas pela nossa esquisitice sem saída, o tipo que fica mais bonita a cada dia, a que me diz que a vida fica mais confusa a cada dia. A musa que encarna essas palavras e não tem nome, a musa inspiradora do inocente útil que se deixou comover por telenovelas. A musa tema, a musa sopro. Do que um dia devo morrer: sopro no coração & a musa ridícula que andava com um cara que defendia a necessidade do espancamento dos meninos de rua. Eu e ela concluímos que a maioria absoluta das pessoas está afundando a olhos vistos na palavra depressão. E justo agora, na momento triunfal dos psicólogos e da felicidade de bolso. Ela me diz que está aprendendo novas formas de rezar, de preferência as totalmente ineficazes. Ela me diz que seria impossível uma vida normal ao meu lado. Ela me diz que qualquer uma gostaria de ter um cara como eu à disposição, fazendo poemas ridículos por, para e mediante a(s) sua(s) musa(s). Ela me procura quando não sabe mais aonde ir. Girassol vermelho, girassol em pó, girassol. Pétalas amarelas servidas no inferno, beijo com gosto de pétalas, ela se dissolvendo na cama. Ela espera que eu entenda o significado da expressão “objeto sexual”. Não sei se apenas eu senti aquele choque elétrico e, fechando as contas, sou apenas um sujeito sem musa, agora que, segundo dizem, a poesia está morta ou foi contrabandeada para as vitrines de um dia dos namorados e descanse em paz. Ela me convida, mas avisa que não devo reagir estranhamente ao convite. Como se não fôssemos estranhos. Estranhos um para o outro e cada um por si, estranhos. Não sei dizer que te conheço. Não tenho segurança suficiente pra dizer que não te conheço. Nem sei mesmo pra quem e quando defendi o estatuto ontológico do sorriso dizendo que, do contrário, a tarde seria uma mentira: e o fiz quase jogando um poema no gramado e sumindo do mapa. Você se lembra? O cigarro aceso, a blusa amarela, a tarde caindo na noite e o medo de voltar pra casa naquela cidade perigosa. Você é perigosa pra mim (ela sorri...). Não sei quem é ela, ela, ela e ela nem são a mesma pessoa. Não deveriam ser. Não sei porque alguém veio no meio do meu sono e disse que seu nome é Autobiografia. Isso me fez ter medo de estar ficando maluco.

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