(Marceli Andresa Becker)
afundava a colher no musse de maracujá — numa das rachaduras finíssimas que o creme inventa depois que gela — quando me lembrei do sonho da noite passada.
*
teria de inserir um pen-drive no pé. havia um corte específico à espera na região mais delicada da sola. era uma fresta, uma janela vasculante, enferrujada, de onde se conseguia enxergar o açude rubro em que me ensopo diariamente.
*
(a poucos metros de profundidade o tétano tomava conta de um peixe. quanto mais próxima a morte lhe parecia, caveira cáustica, mais a sua boca se abria, se abria, para cantar.)
*
fixei contra o peso do corpo aquela imensa verruga plástica. pendurada, assim, virava brinco em formato de tala (pense nas que são usadas para imobilizar braços).
a tarraxa era o meu osso.
(Também publicado no blogue da autora.)
3 comentários:
sensorial: pegajoso, nauseante e dolorido.
assino embaixo do comentário do Daniel.
curti muito a voltagem do poema!
Daniel e Aldemar, valeu :-).
Em tempo: "sonhos" são registros do tipo prosa poética ou poesia em prosa que faço inspirada em alguma imagem que tenho em sonho. É uma vertente dentro do que escrevo, assim tenho sentido... Comecei a experimentar o gênero faz pouco, com a pretensão de... experimentar :-).
Mar
Postar um comentário