9/27/2011

Aqui estou de novo
O tendão do dedo indicador pedindo descanso, como se eu tivesse passado horas assinando meu nome meu nome meu nome e de novo meu nome. Os mesmos traços no papel, sempre recomeçar: como um leão neurótico andando em círculos numa pequena jaula. Como se a caneta fosse capaz de tatuar a pele de celulose. Mas, nada é mais exterior ao sujeito que seu nome. Todo nome é uma fatalidade, quando não é uma citação, ou pior, um prenúncio de lápide. Então por que estou aqui de novo? Porque os anjos, com asas que um dia ainda brotarão desses traços negros na tela luminosa voando para a imaginação de quem fala a minha língua, ainda não estão prontos. Se é que um dia ficarão: suspeito que a matéria-prima dos anjos é o instante. Então, por que estou aqui de novo? Porque as flores, quando morrem, perdem o dom de agir criando elos. E o tempo das flores é curto: a morte das flores é visível a cada segundo. E assim preciso prosseguir desenhando novas e novas flores na sua mente, se você fala a minha língua. Você não vê, agora, uma flor surgindo tão real na sua imaginação? Ainda está muito abstrato? Pense num girassol vermelho, num lírio azul, se debruce sobre flores negras e sem nome. Sinta o gosto do girassol em pó, que te servem no Inferno para matar, piorando, a sua sede. Você não vê, agora, flor alguma? Você não se tocou que essa flor seria um anjo? Você não vê? Não viu?

2 comentários:

Bill disse...

Sério, qual o motivo real pra vc não publicar essas paradas no face??? Tipo, eu nem gosto de poesia, mas essa aqui... se o problema é a quantidade, vc podia escolher algumas então, como essa... queria elogiar e tudo, mas acho que é melhor só apreciar

Mar Becker disse...

Impressão minha: sinto como se os teus textos fossem, ou (i) lugares com apenas um caminho sem saída, ou (ii) lugares em que não há caminhos demarcados e aí você já não sabe para onde ir.

É claustrofóbico... meu nome meu nome meu nome meu nome, que medo...

Beijo!