9/15/2011

Do meu caderno de experimentações - XLVI

Sento-me no parapeito do silêncio. Se estender o braço para fora, cederei ao peso das mãos.

Porque mãos pesam quilos e quilos. Toneladas.

O amor rumina dentro dos dedos.

É muito difícil baixar o volume ou gritar alto, mais alto, em noites assim.

Eu?

Nem ouso empinar a cabeça. Estou ensopada pela bruta sanguinolência dos ursos, que se espreguiçam e bocejam devagar.

(Pouso a mão sobre este sono. Peso.)

O amor rumina dentro dos dedos.

Nem ouso...

Em breve o meu rosto há de ser uma flor a se abrir ao meio-dia, implacável.

Sei que a música, o hino sulfúrico da morte, há de esbofetear — os dedos longos, longos, tanto amor — a minha face direita.

Oferecerei também a outra.

***

(Também publicado em De Ter de Onde se Ir)

4 comentários:

Mar Becker disse...

Vai assim mesmo, então...

Daniel F disse...

Oi Mar, forte, como tudo o que li de seu. Só fiquei meio boiando nessa passagem do urso ao encéfalo, e acho que ela é bem importante no ritmo do poema. Deu pra ver que tem um lance com a sonoridade. Mas, como o urso aparece de repente, acho que é um momento em que o leitor fica surpreso, uma imagem inesperada. Isso é legal, mas daí na passagem pro encéfalo de tudo o que falo, me senti meio por fora. Enfim, não é uma crítica, não tenho esse tipo de pretensão. é só uma sensação de leitura. (do que mais gosto aqui no lingua é quando a gente se sente à vontade pra conversar sobre o que a gente escreve, às vezes acho aquele lance de só ficar elogiando vagamente meio nada a ver). te conheço pouco mas acho que você não acharia ruim um comentário desse tipo, algo mais do que gostei ou não gostei.
de qualquer jeito, acredite que não sou de rasgação de seda, pra mim seus poemas são muito fortes.

Mar Becker disse...

Dani, é bem aí que estava ainda mexendo - por isso o "então vai assim mesmo"...
Ainda não achei uma solução. O original terminava em "devagar"...
Acho que vou manter o original até ver se é possível fazer algo...
Claro, sempre faça comentários assim, é a ideia!!!

Beijouks!

Mar Becker disse...

Ah, e na real depois eu fui ver que tinha algo com a sonoridade, o que não curti, porque neste texto em especial não é um recurso que uso... Que quero usar... Sabe?