para helena n.
foi numa primavera hostil que deixei de te entender
e semeando ausências nos teus calendários
não via as flores mortas nos jardins
onde depositei o simulacro de outro drama
em que anjos distraídos se dissimulavam em pedra
ou em cedro dourado nos crepúsculos dos adros
e das naves escuras e vazias
já não me importa mais que as células sãs enlouqueçam
ou teçam abismos pelo corpo
abismos sangrando névoa e nuvem
e descompassem a música das esferas
nem que o silêncio venha carregado
das palavras
esquecidas num tempo em que ainda amanhecia
neste mesmo lugar deixei o mapa
que nos traria de volta a um presente que não termina
e agora
depois de todas as pontes arruinadas
vi pelo espelho dos metais que andei forjando
um rosto
que representa a ilha
num mar que transborda cinza bruma e gelo
nos acalenta agora nesta outra primavera
o fio que abre a ferida sem resposta
aquela em que
[lançando imprecisões nas cartas do destino]
finalmente
eu
não sei
3 comentários:
Esta segunda estrofe é de matar: "já não me importa mais que as célular sãs enlouqueçam...
[...]
nem que o silêncio venha carregado
das palavras
esquecidas num tempo EM QUE AINDA AMANHECIA".
Que dolorido, como é bonito. E essa fria perda da consciência quanto a qual caminho se deve seguir, a confusão dos que não tem mais o que projetar no mundo, no outro... Sofrer de distâncias, perder de vista o rosto, porque ele representa a ilha, mas "num mar que transborda cinza bruma e gelo".
Ah, no verso da quarta estrofe não é um erro de digitação aquele "neste"? Não seria "nesta?".
Beijos,
Mar
* "dos que não TÊM mais o que..."
Legal vc ter gostado, Mar. Sim, este poema é de 2005 e tem ligação com fatos reais e bem dolorosos, que busquei falar de forma que não fosse só meu. Valeu pela leitura tão atenta. Bjos.
p.s. é um erro de digitação sim... :)
Thanks.
Postar um comentário