10/17/2011

inútil paisagem imóvel

diante de seu corpo, da alma
nem pensar: ela pegou
um táxi em direção
ao centro da cidade
abandonada ou se perdeu
nas revoluções
por minuto [você vai
falar de novo no eixo
inexistente, cara?] ou
se desintegrou quando viu
no espelho a própria imagem e ela parecia
antimatéria ou ainda
seu corpo, isso que produz
pensamentos, irrigado por sangue
quente, hormônios e linfa, isso
que pulsa e expele
secreções, não se reconhece
na idéia de alma As fachadas
mudaram de cor, pântanos
aterrados, flores de concreto
e vidro brotaram da terra, mas
a paisagem permanece
imóvel, áspera [não tem
negócio, meu chapa],

cenário Enquanto isso, mercadorias
incandescentes inauguram
cultos efêmeros, catedrais
instantâneas em que séquitos
depositam almas planas em suaves
prestações num jogo
de corpos imolados em epopéias
controladas por relógios
de ponto e catracas biométricas,
à espera, sempre à espera
de uma rave
tão ácida que dissolva a cápsula
impermeável da alegria
pra que ela penetre em todas
as rachaduras
dos muros
e suma

4 comentários:

Daniel F disse...

gostei Aldemar, mas essas coisas aqui, não entendi: mercadorias incandescentes, cultos efêmeros e catedrais instantâneas, acho que o excesso de adjetivos aí ficou meio esquisito. bem, é só uma impressão de leitura. talvez você queira dizer alguma coisa com esse recurso...

Aldemar Norek disse...

é, postei isso aí mais como experiência, ou escrevi como experiência, pq achei esta segunda parte menos fechada que a outra - ainda que este monte de adjetivos (intencionais)tenha tudo a ver com o que se descreve, um mundo adjetivado acima de tudo.

mas acho que é um poema que ou vou voltar a ele um dia, ou vou abandonar. Vamos ver no que dá.

Abraço!!!!

Daniel F disse...

abandonar não! pra quê?

Aldemar Norek disse...

É uma história comprida. E não é por conta do seu comentário, que sempre gosto - e a gente está aqui pra comentar pro bom e pro ruim, e isso é uma das coisas boas daqui, a nossa liberdade de comentar/criticar e elogiar, conforme o poema, sem que isso afete 'egos ululantes', já que não temos (graças a Deus) essa característica....

A história é a seguinte: desde 2009 estou com a ideia deste poema, mas não como poema - era pra ser uma letra de bossa-nova, uma bossa-nova meio reflexiva, meio no sentido de "Meditação", mas revisando o sentido da inútil paisagem dos anos 50, para estes 2010.

Aconteceu que a forma da coisa como letra não pintou ainda, e estes poemas em torno da cidade me deram vontade de pôr no papel a ideia, e como poema com um tom mais político.

Daí que fiquei com a sensação de ter ficado no meio do caminho, entre uma coisa e outra, sem ser nem uma nem outra - deixando dormir uns tempos a coisa se define, não?

Abraço, Daniel!