10/05/2011

"Só o (palavra proibida) nos une"

Como é bom ter de novo
O silêncio
Não o mero cala-te
Boca, ou o estado definido
Do silêncio como um peso, um aperto
De mãos na garganta
Da alma.

Como é bom ter de novo
O silêncio em que palavras
Se dissolvem depois de partir
O silêncio, ínfimas
Somem, consomem-se
Quase inaudíveis como a areia
De uma ampulheta ou
O silêncio dos pássaros
Que voam alto depois de um grito
De fome:

O silêncio que segue
Pensando alto – algo como:
Não é com você
Nem comigo
Que eu estava falando.

2 comentários:

Aldemar Norek disse...

'Qual é o silêncio que te interessa?'

Mar Becker disse...

Ontem li este. O final tem uma ironia muitooo fina; a gente usa a expressão "Não é contigo que estou falando" geralmente de forma negativa, como ataque... Mas aqui parece um alívio, sei lá, algo que decorre de um "como é bom ter de novo / o silêncio"...
Que bonito. Poderia ser um silêncio de angústia, "aperto de mãos na garganta", mas não, é outro.

Dá uma vontade de tomar as coisas como são, sem o barulho interno das interpretações, hipóteses, inferências...

(Estou oriental hoje) :)

Beijo!