12/16/2011

Mais um espelho do tempo

17.
É lento e adocicado e é lentamente que o cheiro de esgoto vai tomando conta da realidade inteira. Um mergulho, outro mergulho, por curiosidade, por revolta ou jogo. Almas fecais emanam gases mefíticos em fotografias e palavras cheias de ranhuras como se dentes curtos e afiados as tivessem roído, remoído, peidado, cagado, vomitado pelos dedos, expelidas mundo virtual afora e mundo fosse desde então eufemismo pra “grande cloaca”. O cheiro de esgoto te acompanha nas ruas, nas tardes anestesiadas: ele é lento e adocicado; impregna todo pensamento à flor da pele como se os corações sofridos dos meninos que sonham com assassinatos e vinganças bombeassem diarréia no lugar de sangue formando uma cúpula verminosa sobre o céu da cidade.
Mais ou menos como disse o filósofo: quando se entra num esgoto, o esgoto também entra em você. Não adianta polir um espelho com a mão suja de bosta.

Um comentário:

Anônimo disse...

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