6/11/2012

negrete

Foto de www.folhapaulistana.com.br






seus pés desenharam na calçada
áspera as paredes do Grande Hotel
Abismo: você é o hóspede e seus pés não têm
pra onde ir agora que o desejo
foi jogado pra fora de vez pela entrada
por ordem da gerência do Grande Hotel
Labirinto quando sonhos passavam
pelas janelas e você planejava
uma fuga se agarrando a eles  [tantos]
que flutuavam diante do Grande Hotel
Desesperança até que você percebeu
que não pode se agarrar a sonhos porque
sonhos não tem corpo nem se importam
com você sentado no chão do Grande Hotel
Demência incendiando pedras brancas
no fundo de uma lata velha até pintar
de púrpura  e dourado a noite que mora
dentro de seu pensamento com uma fumaça
bêbada agora que você perdeu
pra sempre o caminho do elevador
que levaria ao topo do Grande Hotel
Derrota onde os sinos dobrariam
por ninguém quando você medisse
a sensação do salto como a única rota
pra sair desse quadrado estreito dessas
paredes espessas como o ar da noite
quando faz voar jornais de ontem
com as notícias de sempre forrando
o pavimento neutro do Grande Hotel
Esquecimento onde não sai ninguém
por uma porta pra lhe dizer: “você
está fora, cara.”

Um comentário:

Daniel F disse...

me lembrei daquela passagem do Kafka pelo Hotel, em Amérika.