7/19/2013

Vênus

O ar denso gruda na pele em gelatina corrosiva. À luz difusa, estourada, não se vê depois do céu. Estrelas e o próprio sol inexistem, a não ser como efeitos de especulação teórica, ocultos pelo excesso de claridade.
Carrego comigo um espelho onde julgo poder observar a luz em reflexo, fixamente, pra entender o fogo: de onde vem e como cai sobre a vida, sob a forma de pétalas róseas. Os olhos ardem mais do que o calor retido no espelho e sobre as pálpebras, como numa tela, emerge um novo espetáculo cósmico, astros multicores sob o vermelho das veias – só, o coração permanece o mesmo mistério ofuscado.

Fecho-me num quarto escuro por três dias, para reaprender a caminhar entre sombras.    

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