8/20/2013

Espero tornar-me um louco muito mau

Os influxos de um planeta todo verde
            por dentro, no sangue.

            O sangue circula do coração
            aos olhos e alimenta os movimentos
            das mãos que escrevem
            circulando em torno das palavras
            à espera de que, enfim,
            não sejam mais necessárias como placebo
            para filhos de um planeta muito leve,
            muito lento, todo verde e vazio
            por dentro.
           
            Tento contornar a solidão
            com uma rede de palavras
            mas caio atravessando-as e quando me dou conta
            dou de cara com o sempre mesmo chão
            paradoxalmente duro e inexistente
            um chão cortante de esmeraldas pontiagudas
sem solidez.
           
(De vez em quando a vida manda notícias
com uma lâmina verde na jugular

            escrevo para não ver
            o que existe e é real:

            Nada.

            *
            
            Caem gota a gota
            no meu sangue
            quase estrelas muito silenciosas
            e muito mórbidas
            elas corroem a língua, vampiras
            brincam de carrapatos na garganta
            ou sanguessugas crescendo por dentro
            do cérebro:

            e meu corpo explode como um grotesco
            pacote de fogos de artifício –
            e meu corpo não interessa nessa comédia
            a não ser enquanto máquina de expelir letras.

            Depois elas tomam o primeiro arame farpado
            como andaime
            e sobem aos céus, aos planetas
            e todos os outros rudes maquinismos
            obras de um deus de mau humor
            que elas vão alimentar de amor
            com o sangue anêmico que me foi roubado
            e elas flutuam, como pedaços de carne
            penduradas em ganchos
num açougue celestial:

            - é a primavera que está chegando?

            e elas me deixam falando sozinho.
           

           

            

Um comentário:

Anônimo disse...

que poema lindo!