4/28/2007

Desdicção (ou ‘na birosca de Orfeu’)




o grego, o persa, o portenho,
o português (e seus duplos),
o inglês místico e erótico, o latino com suas musas pornô
olham da mesa ao lado você errar à cata
de uma forma, sua
língua particular, sua maneira original de mexer
no caldeirão fervente da Poesia

quando você vai escutar que eles dizem “sentaí mermão!
em vez desta empresa temerária (ficar aí procurando
portar a Boa Nova) não é
bem melhor sentar aqui e trocar uma idéia com a gente?”
???

7 comentários:

Aldemar Norek disse...

aí, Daniel, este foi escrito a partir do seu ("o rastro é você...")
abração

Daniel F disse...

é Aldemar, dá pra ver hehehe. Fico na dúvida: não ter dicção pode ser uma ótima, sei lá, pra que esse papo de ter dicção não é mesmo? o que é isso, marca registrada...rs? (Ah sim, acho que meu poema caminha por aí, pelo menos leio assim, não é um lamento pela dicção não alcançada). Por outro lado, é bem atraente essa empresa temerária, nem que seja por uma Boa Nova mirrada e solitária, já que procuramos a poesia pra podermos sair do lugar. Como um dos interlocutores desse pessoal aí acho que eu pediria pra decidir depois,

Abraço!!

Daniel.

Aldemar Norek disse...

Daniel, a intenção do poema não passa pela radicalidade de não ter dicção ou de não dar importância a ter uma.
O que pensei criticar não é a sua busca de dicção (encontrar é muito pessoal, é perceber ter encontrado ou não - e às vezes depois de encontrar vc tem que quebrar com ela pra crescer....).
O que pensei criticar foi o "gênio de plantão", o "antena da raça", que fica apenas elaborando apenas a forma (p.ex. certo tipo de neoconcreto e certo tipo de neoparnasiano, bem parecidos, no fundo no fundo). O que fica ali tentando descobrir algo extremamente novo (um novo modernismo, um novo concretismo, uma nova vanguarda) e esquece de dialogar com almas enormes, e esquece que com este diálogo é possível crescer, como poeta e como humano - se é que a poesia em algum momento se aparta do que é humano.
Não sei se fui claro.
abração!

Aldemar Norek disse...

Resumindo: só peguei uma carona no seu poema cheio de dicção. Mas coloquei outra questão.... :)

Daniel F disse...

Beleza Aldemar. Mas de qualquer jeito, as questões se tocam. Porque estes rótulos aí, neoisso e aquilo etc, são o auge da dicção própria. Concordo com você, não sei se indo no mesmo caminho: mas acho uma tentativa desesperada de manter-se o pé firme em algum lugar, nem que seja uma editora...rs Mais ou menos: este mundo pode se acabar, mas a minha Dicção permanece! Minha dúvida é só que detectar essa questão não resolve a questão de que ainda assim procuramos inventar um passo a mais, e que isso permanece sendo uma questão pessoal. Então acho que todos nós envolvidos de um jeito ou de outro com a poesia temos a ver com isso. Por isso, me senti envolvido com o seu poema, que achei bem provocador. Gostei, não sei se passei a impressão contrária.

Abraço!!

Daniel

Ah: e sobre se rolou ou não, o Bom Combate, impossível Aldemar. São várias histórias misturadas. Umas rolaram, outras não. Nessas horas é que sinto inveja do Olimpo...rs

Aldemar Norek disse...

as questões se tocam mesmo. No que diz respeito à dicção,penso que é um caminho muito pessoal ( e na minha opinião de hoje - pq ontem tive outra e amanhã posso reavaliar- só importa num sentido muito pessoal e incomunicável e não deve ser o alvo principal da busca. O alvo deveria (talvez) ser o pensamento e o diálogo - com os pares do passado e de hoje: aliás, é o que estamos fazendo, não? Mesmo Emily Dickinson, em sua solidão -desesperadora?- dialogou imenso com vozes do passado. A sua dicção foi consequência da forma como este diálogo se encaminhou. Penso na foto conhecida dela em que parece ter feito questão de ser capturada com um livro ao lado, como para situar seu universo, o meio onde circulava, solitária, metafísica).
Na verdade tvz isso tudo remeta a outra questão: o que é a matéria da poesia? ou o que seria esta matéria hoje?
Isso remete a outra questão, esta um pouco cara ao Anderson: tudo já foi dito? Acho q não (costumo pensar sorrindo que sim, mas ninguém prestou atenção, então vamos dizer outra vez...). Acho q não, e a linha sinuosa da poesia vai entretecendo significados e variantes, novas formas de refletir sobre isso que chamamos vida. Li num suplemento literário hoje (um artigo sobre ED)uma definição de Heidegger: "poeta é aquele que abre uma clareira na noite do mundo". Gostei, porque me sinto no meio desta noite e faço uso de lanternas poderosas, como Pessoa(s), Borges, Khayyam, Horácio, Drummond, Bandeira, Emily, Wali, Cacaso, Geraldinho C., Ana C., e por aí vai, todos eles abrindo clareiras momentâneas nesta noite.
Um poema do Borges me marcou recentemente, chama-se "Um leitor": "Que outros se jactem das páginas que escreveram;/ a mim me orgulham as que tenho lido./ ..../ O jovem, ante o livro, impõe-se uma disciplina exata/ e o faz em busca de um conhecimento exato;/ a meus anos toda empresa é uma aventura/ que lida com a noite./ Não acabarei de decifrar as antigas linguas do Norte,/ não fundirei as mãos ávidas no ouro de Sigurd;/ a tarefa que empreendo é ilimitada/ e há de acompanhar-me até o fim,/ não menos misteriosa que o Universo/ e que eu, o aprendiz."
Acho que é isso, somos todos aprendizes, e fico feliz em me reconhecer assim, e em ter interlocutores como você, que me ajudam a pensar, me fazem pensar.
grande e prolixo abraço!

Aldemar Norek disse...

E sobre o Bom Combate ter ou não rolado.....poetas sempre dados a construir labirintos....:)....e a esconder pedaços da vida neles....