5/31/2007

RDI cb BECKA

Blues
na escuridão de cobre. Velas com as chamas vermelhas.

Luz, lâmina fria no cabelo preto da mestre-de-obras noiva fora de hora.


Joga-se ouro do terraço do Altíssimo
prédio e caem perdaços de carne podre numa marmita (cobertores pretos, brancos, amarelos).


Castelos góticos de areia. Cristais de sangue brotando como cicatrizes na cidade degradada.


Dois santos brincam de cabo de guerra. Outro esmaga um pássaro com o pé. O silêncio dos infames é comprado pela bagatela de 2 reais.


A luz oblíqua do inverno sobre o letreiro vermelho que conta, em centésimos de segundo, o dinheiro desperdiçado, é a mesma (democrática) que acende o sorriso do jeito de andar da cidade repleta de noivas. Eu me casaria com a mestre-de-obras ao som de canto gregoriano. Eu seria o amante sentado na última fileira no dia do casamento, rindo por dentro do noivo corneado. Eu morreria e renasceria como o Anjo Exterminador parado em frente à Igreja. Eu sopraria o vento em direção contrária, saindo pelas janelas do Edifício São Vito e dinamitando o Martinelli. Eu voltaria pra casa arranhando a janela do ônibus.


A única beleza espontânea desse dia foi aquela que aumentou sua solidão.

5/28/2007

Pastiche Maiakovski para as barricadas do IFCH/Unicamp

Arrancar
Com seriedade
A alegria enterrada
No jardim das flores frias
E das latas de cerveja.

Resgatar
Os livros trancafiados
Em estantes de metal
Que acumulam
Insetos e invernos,

Abrir
Suas páginas contra
O sol: jogo de espelhos
Para um arco-íris sem razão.

Cadeiras escolares

(Postura ereta!
A 25 centímetros
Do papel, olhos
Fixados!)

Empilhadas
São outros rastros para a história:

Castelo de cartas
A ser derrubado a pontapés.

Lenha para a fogueira
De uma festa junina
Pagã.

5/27/2007

nº 39


Olhar pra trás. Olhar
pra trás fazendo música com os olhos sobre a paisagem
devastada que a memória escava mais e mais.
Refém do Acaso, você esgarçou todas
[as faces no trajeto do caos. Errante,
cansa errar tão longamente sobre a cal dos dias,
sempre por uma cabeça, fora o vazio que se interpõe
no sexo, nas escolhas, na visada que se faz à noite
sob a intensidade das estrelas, mirante do mundo
que me leva longe só de olhar
o que se foi, ao ver os rastros que deixou
o desejo quando também se foi,
tão rápido, largando tudo pra trás
no livro das horas que você trazia às mãos
naquela noite antiga
em que ser triste era parte
da maravilha.
(das "Notas Marginais")

A man

what kind of man
a man needs to be?

a man, not mine, but also mine,
a king
- my servant -
just big for the others
but, to me,
a soft little clown

with fire in his mouth.

someone who breaks
heads
- and hearts -
with a kind of feminin goodness
and without shame to be
a boy

with flowers in his eyes.

5/25/2007

As pombas aos pombais Não voltam mais

Arrulham, arrulham
(Ó poeta laureado pelo círculo do chá
Das sogras de Sorocaba!)
As pombas bicando a borda
Do inconsciente, em divãs
Psicanalíticos –
Sinfonia pra turbina de avião.

Do mesmo vão que brota
O vômito
É a fala das pombas em
Seus olhos coagulados
De fome e dor.

As pombas sofrem
Disso não se duvida e
Só mesmo as engrenagens
Tensas
De um piolho
Pra vitalizar
O sangue anêmico das pombas.

Toda pomba é fruto
De uma semente mutilada
É o ainda vir a ser
Do lobisomem –
Há um coração de lobo
No frio cortante
Das pombas comedoras de migalhas.

(Acordar, pombas insufladas.

Daremos pena
Aos aniquiladores do futuro?

Pombas são como
Pão velho
Pra quem tem caninos
Longos e afiados?)

5/24/2007

mais amargo

e ainda
sob
sobre a maciez
da macia carne
e o não
macio
de meu caminho

outro escopo

projeto

vida útil

quase nada
para procurar

nuvens
lilás
e escarro

vai fazer
mais frio

nº 40




Rasgou-se a pele dos olhos na letra dos metafísicos, noite
após noite sob o silêncio desta cidade
que ruge em tons de cinza e de bolor,
mas não surgiu transcendência que não viesse do fundo
do corpo – o mergulho na alegria do corpo é
o mergulho na alma, suas rasuras, a alma
repartida em milhões de células, numa explosão, da superfície
ao fundo (cheia de vãos, a alma), enquanto beijo
sua boca e varo
seu corpo bem fundo em busca
do que sou, na vertigem
dos seus precipícios.

(das "Notas Marginais")

5/19/2007

nº 37




Instantes de maravilha que você captura, vertiginosas
lâminas de tempo em suas mãos, você não sabe o que fazer, seu dia
se perde no lixão que vaza dos calendários, cemitérios
de dejetos, ferros-velhos – contudo, a História
não acabou, nem a sua, se debatendo contra a pedra
(particular, intransferível) que obtura o peito
opresso sob a chuva fina e ácida do pensamento. Pensar,
exercício do caos, pensar com os olhos
tristes, enquanto na retina
se inaugura o caminho novo sob os mesmos
pés de ontem, de
anteontem. No limite
da fissura.


(das Notas Marginais)

Aconteceu no elevador

Claramente, os moradores mais antigos estavam incomodados com a presença de alguém que suspeitavam ser um vagabundo. A líder da pequena comunidade não acreditou na sorte de ficar sozinha com o estranho naquele lugar sem escapatória. Atirou logo de cara a pergunta. “Você é católico?”, “Não”. “Ao menos então você é evangélico?” “Não”. “Mas você acredita em Deus, não é?”, “Não”. “Por quê?, “Perdi a minha fé”. “Mas cínico você não é, mesmo vendo a maldade do mundo você ainda pratica o Bem, estou certa?”, “Maldade?”. “Então me diz aí, seu vagabundo imprestável, QUEM É OITO-OLHOS?”.

Sim senhora, vagabundo no sentido lato. Mas Oito-Olhos não, ao contrário da minha pessoa, ele tem existência histórica comprovada, além de ter o dom de se multiplicar em milhares de presenças que uns acreditariam se tratar do “anônimo das ruas”. Sua primeira aparição foi na Sibéria. Tenho aqui a prova, encontrada numa daquelas velhas edições da Recordação da Casa dos Mortos, onde descobri esse manuscrito, aparentemente uma carta que nunca foi enviada ao destinatário. O papel embolorado me levou a pensar que aquilo um dia poderia se tornar um documento histórico. Leia com seus próprios olhos, dona:


“Caro Oito-Olhos,

Você me vê. Eu não te enxergo. Mas não nego que entrevejo sua silhueta entre arbustos e bustos de heróis fundadores. Você maneja um chicote de longo alcance. Sei porque sinto as lapadas da sua sangria desatada.
Vou ali, ali você está, pra cá me viro, giro como água no ralo da pia, sempre no mesmo sentido: você olhando, checando, decidindo, ferindo, conferindo, direcionando, caluniando, cagando e andando no meu encalço.
Você gosta, finge saber das coisas, estar por dentro delas, sempre do lado de fora, bisbilhotando de longe, impassível e intragável. No seu computador você guarda todos os e-mails trocados por todos os internautas em todos os tempos.
Você ainda acha pouco. Nada basta, nem o bastante de lhe bastar. Você é insaciável: não basta ver, tem que pegar, não basta pegar, tem que comer, não basta comer, tem que vomitar, não basta vomitar, tem que ver, não basta ver.
Você e sua mania de grandeza, você e suas conversas sobre perdão e humildade, você e seu silêncio, você e seu sarcasmo, você e sua coleção de moedas. O bigbang começou numa gaveta do seu armário, o cântico dos cânticos foi escrito pra você recitar com sua voz de tenor, dó do peito. Você já sabe de cor os provérbios. Não resta dúvida: você venceu.
Mas você pensa que eu não sei o seu nome. Ledo engano. Não apenas sei o seu nome, como sei todos os codinomes. Por ordem, eles são:
Peido que entra no cú.
Cara de anjo pinto de marmanjo.
Brilhantina de pentelho.
Careca descabelada.
Todo mundo quer ter.
Cosmoagonia.

E ainda por cima fica com essa cara de me engana que eu gosto.”

5/15/2007

A invasão dos boçais (Da série: Conferências de Oito-Olhos)

O histrionapólogo Oito-Olhos está percorrendo centros culturais do Brasil, no ciclo de palestras intitulado “A Felicidade a Menos de Um Passo”. Sempre postando seus indefectíveis quatro óculos sobre a mesa, olhando fixamente a platéia, eis o que ele vem dizendo nestes encontros:

"Hoje quero falar de boçalidade.

Temos o boçal no sentido baiano: Nariz empinado. Queixo pontudo. Seboso. O sujeito passa por você e não te cumprimenta. Despreza. Pensa que sabe. Quer ser melhor. E como pensar e querer são hiatos na vida que remetem ao núcleo zerado da singularidade: o boçal na Bahia é um hiato social. Todo paulista em solo baiano tende a se comportar como um boçal.

Temos o boçal no sentido do Cambuí: Não respira, fareja. Olha para baixo. Ensebado. O sujeito fala pelos cotovelos, como se fosse seu amigo mais íntimo. Ameaça. Não pensa nem quer: é puro instinto. Come carne de baleia podre. Todo baiano no Cambuí tende a se comportar como um boçal.

Juntando os dois boçais, temos:
O boçal fala demais. O boçal fala de menos. Toda a vez que o boçal abre a boca, um segredo é revelado.
O boçal não faz planos. O boçal não quer ser plano. O boçal atrapalha nossos planos: é altivo e indigno ao mesmo tempo.
Todo nômade é boçal. Todo exilado é boçal. Todo apátrida é boçal.
O boçal trabalha por prazer. O boçal trabalha com prazer. O boçal não trabalha.
O boçal não tem método.
O boçal boçaliza quem fala com ele. Melhor evitá-lo.
O boçal pede perdão por pura vaidade. É polido como um facão. O boçal se rebaixa para melhor humilhar. É áspero como estrela marinha.
O boçal não é retratado. Nem retratável. Não pode ser tratado. Sempre é detratado. Eletrochoque nele!
Eu conferencio, confiro e firo. O boçal nada profere, vomita silêncio. O boçal não tem estilo. Eu sou cheio do meu estilo, meu estilo é cheio de si. O boçal é no máximo um estilete. Por isso protejo meus oito olhos quando vejo um boçal.

Agradeçamos, senhores presentes em busca da Felicidade. Deus ou Mão Invisível: mas uma coisa protege a Civilização. Ou, dizendo melhor: adia a civilização. Posterga. Dois boçais nunca se entendem, nunca se entenderão."

5/13/2007

Mil Perdões



[advertência ao (im)provável leitor acerca do teor do que irá encontrar no livrinho de sonetos que (por acidente) tem em mãos]


sonetos sei que há demais no mundo,
e aqui faço mais um sem interesse
algum, mas se o leitor perdoar a este
parvo, que em poucas linhas vai ao fundo

da rasa inteligência que lhe coube,
enfim talvez não possa me dizer
que enganado está sem perceber
- temos por testemunha quem (?) nos ouve...

o Luís Vaz com toda maestria
compôs sonetos em que nos confia
14 versos com 14 idéias;

com o perdão do leitor que já me estranha,
cometo (impune) o inverso da façanha:
14 versos e idéia nenhuma.

5/12/2007

Não era essa a Barreira dos meus sonhos

Besteira ter acreditado no papo antigo sobre o sol líquido vermelho da revolução em garrafa verde, o tal Vinho da Barreira que teria ensinado o cão e o menino a conversarem sobre o Inferno por meio de gestos que são nossa única memória dos antepassados. O jeito ridículo de andar e comer, a ilusão com a lentidão hierática do Padre que provavelmente esconde a banheira de hidromassagem no quarto dos fundos e aquele vinho com gosto doce de uva estragada, e aí está tudo o que sobrou na adega do anjo da história.
A banda cover dos Incríveis tocava O vendedor de Bananas, a garota que fazia a voz secundária lembrava uma coisa meio Elba Ramalho e o meu irmão enfurecido, os dois braços totalmente tomados por representações da morte (iguais aquelas que tiveram as caras raspadas pelo moralista responsável pelos azulejos da Igreja de São Francisco em Salvador), jogava latas de cerveja no palco. Ele disse que enfiaria uma escopeta no rabo de cada um dos presentes se por acaso alguém resolvesse tomar desforra com seu irmão mais novo, seu frágil irmão mais novo quase transparente e branco como as páginas dos livros que o envenenaram e o tornaram inútil para a vida.
Ainda assim acreditei nas mentiras do poeta, na conversa fiada sobre os dois bêbados que deram uma lição de solidariedade diante da cidade invejosa.
Agora estou aqui espremido neste ônibus (a tarde é muito fria, mas como os fregueses pagaram pelo tipo Executivo o ar condicionado está ligado, assim geladinhos todos acreditam que não são convencionais). À minha direita, o bêbado mais autoritário com que já tropecei enterra de uma vez por todas a cara e a coragem do anjo da história.

Eu sou eu mais eu sou mais eu e tudo somado eu sou eu mais eu
Eu bato pego e boto me dá essa bolsa aqui vou arrancar dois cigarros e fumo os dois de uma vez só eu sou mais eu
Tira o meu cachecol que eu te mostro uma coisa eu sou um cometa congelado
Agora o motorista vai virar à direita presta atenção você tá vendo é à direita que ele vai virar estou dizendo porque conheço o caminho
Quando eu morrer minha morte vai levar tudo comigo o motorista está perdido sem os meus sinais.


Ele belisca o braço da mulher. A coitada também já desistiu.

5/10/2007

DR. JECKILL & MR. HIDE & ALICE & SHREK & LARRY & MOE & …

(tela de Ludovic Debeurme)

sou sempre a Véspera e, ao amanhecer,
suporto a Noite que me é também;
desencontrado entre não-ser e ser
parei num ponto que não vai e não vem.

quando no espelho vejo envelhecer
meu rosto e então o que se vê é alguém
que ainda não conheço, que dizer
de já não ser mais eu e estar além?

como se fosse um Abismo sem fim,
me nasce outro de mim e outro depois
e outro depois até o infinito...

quem poderá desabrochar em mim,
se cada rosto se desdobra em dois
e a voz se perde entre Silêncio e grito?

Um aquário asfixiado
Sem água e sem peixes
Com gente e suor.

Uma jaula firme
Para pangarés
De pé, balançando
Desgraçadas marionetes
Circulando na cidade
Olhos vidrados no
Brilho inacessível
Trincando no ar.

A onça paluá
Furou os olhos
Com lanternas
Bebeu gasolina e
Corre encantada
Pelo mundo enorme
Na arte de seguir, fazer
Sangrar a rês nas unhas:

Ponta-de-lança
Verde-esmeralda
Vermelho-sangue
Branco-lápide
Azul terrível!

Rajadas de nomes
De cidades, frutas e pedras
Refletem-se nos olhos
Marejados
De cansados pangarés.
A luz gritante
Bate nos dentes da onça
Rebate nos pobres olhos
De velhos pangarés

Ressentimento, ponto cego
De espelho retrovisor:

O que ficou para trás
Ainda visível
O fim da ansiedade
Doida
Início de milênio promissor não
Ser perseguido por ninguém
Correr e não sair do lugar:


(O menino ficou ir-
Reconhecível com a cara
Macerada
Não pôde ser reconstituído
Pelos legistas, nem pela
Poesia
Ferro é mais duro que a carne
Desde então um pesadelo
Na cabeça:

O menino escondido
Num pedaço de pano e
Duas botas pretas)

5/08/2007

FORMIGAS REBELDES

a Guillaume Apollinaire


Tínhamos
o direito de saudar todos que passavam
eles nos pertenciam no outono pelas ruas
em passos largos incendiários
nossos rastros anunciavam
a novidade de uma vida fascinada.

Andávamos firmes, andávamos decididos
em mil organizações clandestinas, na nova escola
cachecóis eram tricotados ao ar livre, desfeitos à luz da lua
e pelo Sena o trote
de dia ou de noite
passos se refaziam e descosiam-se.

Três marchavam e o odor se desprendia do Jardin de Plantes
você a direita, você a esquerda
ladeavam
diabólicos planos de consertar o mundo
nosso remendo, nossa travessia dos rios que conectam
apagavam cordas e as noticias minavam sempre.

Éramos basanés em Belleville
éramos pretenciosos
a contornar o amarelo, o azul verde
esquadrinhar os mil quadrados
contorcidos já prenunciavam
violetas através da Europa.

Enquanto cachos de faíscas despenteavam
entre o metro Odéon
entre as passantes coloridas
a chuva fina
nossas imagens
apagava.


(novembro 2005)

5/06/2007

Poeta




eu poderia estar roubando
eu poderia estar matando






Mal-de-pétalas

Cheguei a pensar
Que escreveria melhor
Se soubesse mais nomes
De flores e árvores e
Não estava assim
Tão errado.

Apesar do vício
No romantismo
Apenas sei o nome de plantas
Óbvias.

Livros sobre o assunto
São vitrines de jardinagem:
Um orvalho sobre a pétala roxa
Na noite escura, seja
Puro mau gosto
Cometido em cristal líquido.

Já vi mais de uma
Rosa doente
(Li em suas cores desbotadas
Que um inseto
Imperceptível as consumia).

De gérbera entendo
Pouco
(Certa vez me dissolvi
Na labirintite
Propiciada por esta flor).

Ainda me lembro do nome
Mas não da cara
Da jibóia
(Esta por ser ideal
Para jardineiros relapsos
Não precisa de água e
Como ontem
Joguei violetas mortas
No lixo orgânico
Com as borras de café
E o resto do almoço
Me lembrei da jibóia
Que um dia me deram).

Esta noite sonhei que
De minhas pernas
Que mais pareciam
O chão do cerrado
Em tempo sem chuva
Brotavam raízes.

Arrancava-as, paciente,
O que era indolor
Apesar dos rasgos na pele
Cada traço deixava
Uma cicatriz –

Uma rigidez.

5/04/2007

Mandinga, Oito-Olhos!

Diz assim ó:

Vai!
Ó bula de tosar
Carneiros
Voz que só
Se afirma quando
Nega
Os nãos escorrendo
No canto
Da mandíbula.

Vai!
Ó dentes peludos
Castiçal oculto na masmorra
No porão do elevador
Do edifício Angra dos Reis.

Vai!
Riso vencido
No prazo de validade
Caça-níqueis
E lança-mísseis.

Vai!
Hiena que se come
Na própria carniça
Podre fruto
De si mesmo
Servido:
Escuro e escudo e scud e
Ogiva de esgoto!

Vai!
Peido que entra
No próprio cu
Ó cara de anjo e
Pinto de marmanjo

Vai!
Belem-Brasília
Brilhantina de pentelho
Olhos trincados.
Enguia e peixe-elétrico
E gaiola de guardar
Tubarões.

Vai!
Incendiário de parnaso
Oficial de Sentenças
Fetichista da máquina de nomear
Repetindo aos berros
“-Aqui tem gente!”
E da próxima vez
Vê se come direito
A manga proibida
Ó filho de Deus!

Sai fora!
Virgem das trevas luminosas
Portadoras de raízes
Caçador e caçado
Que se atira
Ao próprio rabo
Dissolve-te no asfalto
Que te vomitou
Engole a risada que jogaste
Na parede -
E a parede te devolve aos berros!

Vai!
Ó morcego, coruja e gavião:
As três crias do azul
Terrível.
Pega o lençol, arruma a cama
Debaixo do Altar
Do Salão de Festas
E ri, ri muito
In your dreams.”


Escreva o nome da pessoa num bilhetinho
Rogue a praga. Mentalmente, para que você não seja
Temido pelos vizinhos.
Veja como a coisa pega no nome –
Bem no meio

Do seu nome.
A cura será
Sua. A raiva
Passará, ó ente do ódio
Amarelado!