9/20/2007

nº 49



E se dissesse a verdade ninguém
acreditaria, você disse, à espera
naquele espaço rápido
entre o olhar e o sorriso, isso
é besteira, ela disse, displicente,
sem a frieza que é sua e do céu que
é só dispersão
de estilhaços de outra coisa
que explodiu faz tempo e que ainda
arde sob o nome fantasia
de "estrelas", é certo, mas sem o aparato
da memória acesa, em carne viva,
latejando: “Vou falar de mim
pra ver se me esqueço
ou me ultrapasso, sem
retrovisor
”.





(das "Notas Marginais")

2 comentários:

Daniel F disse...

Oi Aldemar,

taí mais um poema que vale a pena. Só acho que o meio, entre "é só uma dispersão" até "latejando" está meio embaçado. eu tiraria os três "uma", eles atrapalham a leitura e são desnecessários, tiram a força da palavra mais direta. tiraria também o "de" antes dos detritos, só porque achei ruim de dizer: didetri.

Mas sempre gosto desses seus poemas em tom de conversa.

Se eu dissesse a verdade você não acreditaria, é por isso que sou contra a exigência da verossimilhança. A verdade nem sempre é verossímil. O ruim é que o resultado disso só pode ser a solidão.

Abraço,

Daniel.

Aldemar Norek disse...

Sugestão aceita com entusiasmo. Obrigado de novo, Daniel.
(este poema fiz ontem, tem esta coisa rápida da internet, às vezes dá vontade de postar antes de decantar - e sempre decanta, apura...)
Aliás, o "estilhaço" e a verossimilhança me lembraram o "Matéria Prima", que li, e quero comentar, mas este vai por email, depois.

No caso da verossimilhança, nem sempre o resultado é solidão (mesmo que assim se nos apresente), porque a recepção pode se dar, pode rolar, por conta das entrelinhas e segundas intenções de quem fala no poema combinadas com as de quem lê.

abração, Daniel. Um prazer receber seus comentários, sempre.