Dedico-me a escrever sobre limitações: é tudo o que existe. Nada
sobre como sacar o mundo do interior da caixa preta. Há uma outra linguagem,
não detectada, fora de mim. Não saber mais o que se é,
quando tudo que se é não passa de um deslocamento. Fora de prumo
o mundo gira e arranha a pele nas paredes. De novo o coração, aplicadinho, se deixa fotografar
no exercício de pulsões neoliberais – contudo, por dentro
soa a frágil certeza de ser gauche. Lemos todos os metafísicos,
mas desta varanda o que se assiste são sentimentos médios, pensamentos médios,
tudo em plano-seqüência e sem alarido: entre o que se move e nós,
que aqui nos abandonamos, só um ponto é certo
– e jaz oculto.
(das "Notas Marginais")
3 comentários:
Oi Aldemar,
se as limitações existem, elas não podem ser tudo o que existe. São fronteiras, uai. "escrevo contra as limitações", ou "dentro delas". Mas por outro lado, acho que o seu poema desdiz a frase inicial, o que é uma boa saída para o problema: deixar a tensão no ar.
Sobre o oculto, sou fã de dois caras, Heráclito de Éfeso e Noel Rosa de Vila Isabel. O primeiro disse que quem não espera o inesperado não o encontrará, porque é inacessível. O Noel fez aquela música em que o cara apaga o cigarro, pisa, depois vê que não tem outro e por isso pega aquele mesmo e fuma. "a poesia é a minha nicotina".
Abraço,
Daniel.
uma coisa legal é que temos algumas admirações comuns (acho que não são poucas, veja Cartola e N. Cavaquinho, p.ex).
A tensão existe mesmo, mas na trilha do último comentário que fiz no seu poema anterior, a questão da língua como limitação, a tensão mesmo é entre o desejo de clareza/transparência e a impossibiidade (pessoal? histórica? momentânea?) de que isso acopnteça. De todo modo tenho sempre o medo de que o hermético funcione como uma saída fácil e como uma acomodação, uma via larga.
sim, e as limitações são tudo a partir do olhar de quem as tem como fronteira, um anel circundante.
Ultrapassar?
Postar um comentário