3/21/2008

nº 73

Certas tardes de verão (ou seria
daquele tipo de inverno onde o sol
ainda se esmera em grafar na pele
flores rubras com sua luz de agulhas
todas em brasa e imateriais) banidas
agora para um limbo que tantos
nomeiam (pelo mecanismo falso
dos sentidos) de passado, limbo
que concentra, entre outros, o instante
em que talvez confuso (talvez
indiferente) você percorria a orla
do primeiro verso logo acima, e que é
um território raso em que tudo
se desfaz e se confunde e nunca
mais retorna (o que lhe deu prazer
ou paz ou a mais intensa dor ou
desespero), mesmo que em
seu mundo imaginário, você
projete seu corpo imerso
num rio sem fluxo onde
as águas estanques apodrecem
o seu melhor sorriso, o seu mais
claro gesto, o seu maior ardor
e, claro, de todas a mais infundada
(como de resto cabe a qualquer
formulação) fé, cicatriz
da esperança.

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