3/31/2008

nº 75




Tornar-se o próprio veneno, exposto
à corrosão do que lhe vai por dentro, lastro
ácido e atroz (se não fosse tão inadequado
e antigo como um bolero antigo
este adjetivo que o ouvido recolheu
de algum vinil, entre os riscos) que lhe atravessa
os vasos e se oferece ao ar, cercando
seu corpo como um pensamento, ou
o desenhar de um gesto, ou um
cheiro que não se reconhece - “crimes
contra a inocência não prescrevem,
devia-se saber” – mas que a ninguém
aturde como a si mesmo, nem que
se quebrassem todos os pratos, todas
as janelas e arrebentasse as portas antes
de sair, como se fosse possível sair
deste vagar pelo seu circo particular
de horrores, nem mesmo assim desmancharia
o espanto, e na seqüência tomaria
mais um gole disso que é você
e depois outro e mais um e
ainda outro e outro antes
do fim.
(das "Notas Marginais")

3 comentários:

Daniel F disse...

Oi Aldemar,

sempre tive essa impressão, de que os livros que a gente lê vão virando um tipo de veneno pessoal. esse circo dos horrores é um espetáculo bem triste, pessoas enredadas em sua (nossa) solidão. Deve ser o mal do século. ás vezes acho que internet é apenas o retorno daquela velha prática da sangria, não funciona mas pelo menos dá um certo alívio pras pessoas à nossa volta.

Abraço,

Daniel.

Anônimo disse...
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Aldemar Norek disse...

Daniel,
acho que no fundo quase tudo vai virando veneno pessoal. Os livros são a parte "teórica". A vida provê a prática - ainda que as duas se trancem muitas vezes e não se diferenciem em alguns.
Assim como cada um coleciona as atrações de seu círculo pessoal de horrores, e defina se tem espetáculo todo dia ou não.
Quanto a internet e solidão, tudo a ver. Pura sangria.
abração.