“Começando pelos verbos: atravessar, repensar, instigar, inserido e focar.”
“é legal que o Vesúvio tenha inserido suas lavas em Pompéia, porque agora temos um sítio arqueológico intacto e instigante”
“a lava preservou o salão das pinturas eróticas”
“mas focou a pica do prefeito de Pompéia, pão e circo de auditório cultural”
“e se o Vesúvio tivesse estourado sobre Uberlândia, repensaríamos os vestígios que restariam, por exemplo a lista telefônica (o instigante mapeamento da cidade)
AÇOUGUES/ACRÍLICO AÇÚCAR/ADVOGADOS
ADVOGADOS/ALARMES AR/AREIA BISCOITOS/BLOQUEADORES BOMBAS/BOUTIQUES CABELEIREIROS/CAÇA
CAMINHÕES/CAMISETAS CHURRASQUEIRAS/CIRURGIÕES COFRES/COLCHÕES CONTROLE/CÓPIAS CÓPIAS/CORTINAS DEDETIZAÇÃO/DEMOLIÇÕES DESENTUMPIMENTO/DIGITAÇÃO ENTULHO/ENXOVAIS ESCOLAS/ESPUMAS
EVENTOS/FACULDADES FACULDADES/FANTASIAS
FERRO/FESTAS FLORICULTURAS/FOGÕES
FRANGOS/FUNERAIS GUINDASTES/HOSPITAIS
LIMPEZA/LINGERIE MÉDICOS/METAIS
MOTOCICLETAS/MOTOSSERAS NOIVAS/ÓCULOS
PAPELARIAS/PÁRA-CHOQUES PROTÉTICOS/PSICÓLOGOS
SELF/SEX TANQUES/TATUAGENS TERAPIA/TERRAPLANAGEM TURISMO/ULTRASSONOGRAFIA
VIGILÂNCIA/ZÍPERES”
“os cus carbonizados de Pompéia. Mas, como um buraco pode ser carbonizado? Tem aí um problema de método.”
“O cu é uma mistura de carne e veias extremamente sensível, você só focou no buraco. É isso o que aconteceria se o Vesúvio explodisse em Cuberlândia”
“O sonho do hospital próprio”
“Boca inserida na cloaca do caixa eletrônico: finalizando, finalizando, finalizando.”
“E nunca perder o gancho de vista”
Quando você é vulgar: apenas negocia convenções, não domina os segredos, qualquer um pode dizer que árvore é o nome de uma cidade, que cidade é o nome de uma arma, que arma é um sentimento, que sentimento é o nome de um faraó. A língua epistolar é a conversa vulgar no desentendimento, mesmo que este ocasione encontros repentinos e imprevistos. É quando uma criança autista diz pra você: se o mundo gira, porque você não fica tonto?
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Um comentário:
DAniel, gostei muito. Só achei o "catálogo" extenso demais, ele divide o poema em dois, quebra o ritmo, a meu ver.
Olhando por outro ângulo, ele é outro poema, né?
Pelo andamento das coisas, você vai escrever sua relação com outra cidade, agora Uberlândia. Acho que virão mais Notas sobre a cidade tbm, ando pensando sobre os escritos de um amigo, ele fala da cidade como algo mítico, uma coisa assim meio bachelardiana, o que transforma a cidade num ente ideal - e a cidade pra mim é outra coisa, real, sem metafísica, algo que degenera e se degenera, parecido com a sua visão, acho.
Abraço!
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