12/02/2008

Chover no molhado

E é só
Chover no molhado.

As palavras escorrem
Na luz líquida
Do meu computador,
As palavras evaporam
E eu não tenho guarda-chuva
Pra te proteger das gotas
Que caem sobre o desde sempre molhado
Tecalque, teclaque, teclhado, brincadeiras
Redivivas de uma vanguarda que desde meus avós
Só chove no molhado, baby.

Já vi um lugar em que as gotas
De água batendo na água do rio
Faiscavam como se os peixes
Fossem de prata, e não foi
Num filme de walt disney.
Agora, Madame de Saint-Ange
É síndica do meu prédio & me
Diz que sou um anjo e com asas
Porque digo bom dia aos mendigos
& Dolmancé é meu vizinho de parede
& coordena a comissão de diárias
E passagens aéreas e me faz uma reserva
Num hotel de João Pessoa
Pra que, entre conversas sobre a destruição de Pompéia
E a questão cultural do rolete de porco
Eu possa dormir no auditório
Debaixo da mesa do orador, leitor
De Sun Tzu, Paulo Coelho e Washington Olivetto
& Dolmancé que é meu vizinho e meu aluno
E organizador do natal da família
Me diz que por isso eu sou um santo do tipo
Otário que dorme no auditório,
No supositório da cadeira giratória,
Ó simbolistas do apocalipse sem fim...

Mas, menina, molhe seus cabelos
Nessa tela que é sempre e sempre será
Chover no molhado e me esqueça
E de vez em quando se lembre
Que me esqueceu e me deixe
Chover no molhado e me esqueça
De suas palavras abrasivas, e só
Não me diga que dessa água não beberei
Porque tudo é chat, tudo é comments
E a dona poesia anda ensopada
Por temporais de neoparnasianos, neobarrocos,
Pós-concretistas e viscerais
De fim de fila.

Um comentário:

Aldemar Norek disse...

o mundo anda um fim de fila há pelo menos vinte anos,Daniel.
o resto é mera consequencia.
abraços