12/07/2008

nº 93

Dias que se erguem feito muros, muito
altos, diques, e o chão
calcinado ao rés dos movimentos
da memória, longo caminho
a pé, só lhe restou
beber o veneno, mergulhar
no veneno, sem antídoto
à mão, sem cartas
na manga, e depois mijar o veneno de volta
nos muros misturado
às secreções do corpo,
seu corpo, um dia
depois do outro, esperando
minar as bases, contaminar, os olhos
acorrentados no dever
de ver. “Tudo
está aí
”, ele disse, “pura rasura”,
quando escrevia, o coração
a nu, ruína
da paixão de grafitar a paisagem, seu apocalipse
portátil.

(das "Notas Marginais")

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