8/18/2009

Rumor Piripkura

Jesus disse: Mostrai-me a pedra que os construtores
rejeitaram, ela é a pedra angular.



O vento é como se fosse invisível
E a árvore balança e dizer
Que o vento move o mamoeiro é singelo
Mas antinatural como se Brasília neste momento
Sob sua luz quase fria e quase branca
Não ouvisse o rumor de dois homens
Sozinhos em mata fechada, fugindo ao norte
Da fome, da morte, carregando um facho
Invisível antes os clarões abertos pelo, como se fosse, progresso.

E no entanto eles serão os últimos
E sua morte será como se a implosão
Distante de uma galáxia num silêncio
Mais profundo, repleto de rumores
Se calassem, levando consigo
Outras tantas centenas de vozes, como se imersas
Nas raras conversas entre os dois
Na solidão ameaçada
Pelas armas da civilização como se uma britadeira
Abrisse caminho e forçasse o tempo a andar mais rápido
No ritmo das rodas dentadas e das faíscas, das sirenes
Que encobrem o mínimo rumor produzido por dois homens
Que matarão com sua morte todas as gerações
Que lenta e pacientemente prepararam a arte
De não deixar o fogo morrer na floresta úmida e escura.

E será como se elas, todas as vozes
Misturadas como se a fala universal de uma criança
Fosse o idioma destes dois homens que carregam fachos
Na floresta escura, nunca
Tivessem existido, ao menos em Brasília
Mais preocupada com a proximidade
Miserável em seus bairros nobres
Das escolas públicas e a qualidade da grama
Que na seca se comporta como se fosse palha morta.

Um comentário:

M. disse...

Daniel e as cidades. Os lugares e os territórios. A vida e o movimentos. Saudades de você e do André: encontros etílicos que não deixavam o fogo morrer.