2/15/2010

O que não quero dizer sobre os anjos

Enquanto tagarelo, estrangulando as coisas do mundo para experimentar a distinção entre certo e errado, antes de tudo quem está certo e quem está errado, cuspindo convicções –

É nas palavras que finjo acreditar na vitória

Das derrotas, a arte da guerra para um falido na fragilidade das palavras que recobrem o mundo como uma fina superfície – a sua realidade, talvez,

E invento desculpas para explicar porque somos fora de foco e só como discursadores vencemos ou julgamos vencer, à revelia do resto

Que é tudo o mais.

Quanto aos anjos, é da natureza dos anjos falar pouco, quase que por sinais, o passo leve, toda a atenção dedicada à lanterna que acendo na noite como pedagogia da distância, enquanto o anjo me ensina a suave proximidade de quem finge aprender, ainda mais que anjos não aconselham, escutam.

Enquanto vocês precisam de seres alados impossíveis, auras e demais pretextos teológicos e éticos, a vida ou a morte, o caminho reto, não vendo a proximidade dos anjos, em simplicidade, silêncio e ausência

De promessas ou perguntas e negamos a clara existência dos anjos, só por não serem

Sobrenaturais – da mesma forma que o milagre é direto e simples, a mão estendida para a amizade, a chuva que transforma este habitat de underground supralunar em leve paisagem marinha.

Um comentário:

Aldemar Norek disse...

Daniel, acho que você tem que reunir essas suas últimas coisas impressionantes em livro. E me mandar um exemplar.

Não sei se entendi bem a (a partir da antepenúltima 'estrofe') vereda que busca no real um outro viés místico (o que pode até ser uma saída neste mundo artificialmente - ou disfarçadamente- antimetafísico) com um olhar discretamente orientalizante, mas (sendo ou não isso) este poema é muito bonito, um poema dos bons, daqueles de ler, reler, reler.

Mande mais.

p.s.: a alegoria do sorriso sinistro pintado no avião, no poema aí de cima é outra pedrada. Só ela, em si, seria um poema. Mas o em torno se junta e fica perfeito.

Abração, bróder.