7/14/2010

Do caminhar à encruzilhada

Do caminhar à encruzilhada

Adoecer, ser, sendo...
Frente à frente ao inferno, ao paraíso e ao purgatório ao mesmo tempo.
Frente à frente ao nosso inferno:
Nossos demônios se sentem mais livres nessas horas.

Belzebu ri, Deus ri, os arcanjos riem: os vizinhos fingem que choram.
Nenhuma imortalidade, nenhuma alma, nem chão.
Somos reduzidos ao que realmente somos. E o que somos?

Frente à morte as coisas talvez simples, pequenos gestos.
Por exemplo, uma massagem no cotovelo.
O som da voz se vai...

O toque reduz a dor dos dois lados.
O toque torna a coisa mais coisa.
O toque reduz o devaneio.
O toque alimenta dois moribundos.

Frente à morte o combate?
A coragem, o carinho, a paz do bem morrer: onde está a boa morte?
As artes de morrer ressuscitadas.
Não temê-la: estar diante, como um samurai.
Olhar a partir dos olhos já sem vida.

Vê-la, sentir, experimentar o som da música.
Sentir a falibilidade, perceber a frágil condição.
Escutar o harmônio, mas também a furadeira.

Diante da morte: a realidade se mostra mais nua.
Um peitinho talvez...
Deixar a tristeza sair e só!
Temor e medo de morrer no meio do caminho. Ou longe do fim pensado.
Impotência do agir, do fazer. Só o sentimento pode, apesar de.

Agora e na hora da nossa morte
Deixai a poesia e a música sair e entrar pelos poros:
Sopros de vida, quietude e amor.

Amor eis a palavra e gesto que finalmente sai...
Entrai também pelos poros.
Agora e na hora da nossa morte.

Minha alma neste instante se transmuta em um espírito cristão.

Senhor, tende piedade de nós.
Morte, tende piedade de nós.
Vida, tende piedade de nós.
Agora e na hora da nossa morte!
Na verdade, tudo parece ser mesmo impermanente!

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