7/28/2010

E tudo mais jogo num verso, intitulado mal secreto. (Jards Macalé e Waly Salomão)

Minha ex-mulher e minha futura namorada estão conversando. O sonho é meu e dele não participo. Please see if she's wearing a coat so warm to keep her from the howlin' winds, este seria um primeiro fundo musical. Não pelo frio, desconhecido neste norte, mas pelo espírito. Só não sei quem leva e quem recebe a mensagem – tem um caminho mais fácil, mas quero evitar a ingratidão. I gave her my heart, but she wanted my soul. Já isto, sei bem o que significa. Minha ex-mulher e minha futura namorada estão conversando, felizmente elas não falam de mim. Existem tantas coisas urgentes no mundo. A cada minuto que passa há um rumor a menos, uma língua a menos, menos palavras para multiplicar as inúmeras formas da dor e da alegria. Ronald Macdonald, o maior Iconoclasta de todos os tempos, o Transgressor intransitivo, dinamita a torre de Babel e o Progresso é um Moloch Estatístico para quem toda vida é perda (de tempo). É um alívio estar ausente entre mulheres de amplos horizontes: um norte além dos marcos patrióticos da bandeira habitada por uma sombra devoradora de culturas, pela morte escondida no estardalhaço megalomaníaco dos acadêmicos paulistanos sobre os matos virgens dinamitados em nome da segurança nacional. Intérpretes do Brasil, colecionadores de vocábulos exóticos que zombam do índio condenado a usar ornamentos de pena de galinha e a pintar o corpo com pincel atômico. Onde elas estarão no coração do Brasil, onde o Brasil estará em seus corações, no sonho sem coração de um sujeito sem norte? Elas conversam, o sonho é delas, do meu sonho não participo.Lentamente, vou sumindo do meu sonho, como todo dramaturgo sou desnecessário quando o cenário está montado. Elas estão se entendendo, apesar da diferença de densidade entre o que passou, o real irremediável, e o que virá. O futuro é uma promessa, um sonho de que não participo. Peço à minha ex-mulher e minha futura namorada que não deixem o sonho ser assassinado pelo vento gelado, pela tempestade do real. Tudo o que ouço é um rumor, uma língua que não entendo. Elas parecem se entender, mas vão sumindo no horizonte enquanto eu desperto lentamente.

Um comentário:

Aldemar Norek disse...

Rapaz, que pedrada.
Vou ler outra vez, e talvez outra.
Me identifiquei muito.
Abração.