8/30/2010

Apontamentos para uma fenomenologia do intruso

Nunca se é
Suficientemente nulo
Para se não ser
Intruso
Ou insuficientemente nulo
Para se deixar
De ser Intruso

Nunca se sobra bastante
Pouco
Para não se fracassar
Por excesso de resto
Nunca se falta
Na medida certa
Para se não ser
As migalhas do Intruso.

Sempre que se nasce
Num mundo alheio
Sempre que se entra
Não há modo discreto
De se sair
Intruso.

Nunca se é claramente
Coadjuvante
Para não se ferir
O agon
Do protagonista.

Nunca se tem tanta
Certeza
Se o intruso é ou não é
Você.

O convite estava em seu nome
Mas foi você
O convidado?
Mas foi para dizer
O que diz
Que você foi convidado?
Foi para sair
A tantas horas depois de chegar
Que você foi convidado?

A sua roupa não bate
Com a fantasia
Do convidado esperado
Você nunca é
O que eles pensavam.

Já vai tarde

Assim pensam todos
Os que recebem
O intruso.

Já chegou?

Pensam assim todos
Os que se despedem
Do intruso.

Você vai pra rua
Como quem sai
Pra dar uma mijada
No boteco
E quando volta
As pessoas se calam

Você se esmera
Sair à francesa
Mas quando sai
É como Intruso
Que circula nas calçadas.

O seu tempo passou
Onde você estava
Quando era o seu tempo
Intruso?

O que o sujeito K
Está fazendo na Ilíada?
Assim pensam
Os que vêem a sua história
(Sua quer dizer: deles)
Manchada
Por um Intruso.

Um comentário:

Aldemar Norek disse...

Daniel, as imagens do poema sobre o silêncio são precisas.
Entrei no poema.

Este do intruso idem.
Fora ser visceral.

Abraço!