8/25/2010

Está aí, Tchau

O silêncio
É um evento,
Como outros
Repletos de palavras –
Acontece, tão denso
Como uma ofensa
Solta no ar.

A língua esburacada
Na tagarelice do dizer desdizer
Redizer, não é por aí, e
Cada gota de silêncio
Por sua vez
Uma rigidez na alma
Uma cicatriz

(Alma no lugar de língua: pra falar no silêncio
Recorremos às partes abstratas do corpo)

Tudo o que se fez por merecer, ou seja
O silêncio remorde
Uma cárie no coração:
Nada dizer não
É o mesmo que dizer não, ou sequer
Dizer que não há nada
A se declarar. O silêncio, jamais
É idêntico a si:
O silenciamento pânico,
A afonia, a vertigem catatônica
O cala-te boca
O não vale a pena
O desconhecimento do invisível
A assimetria (não conversar
Com serviçais)
A constatação de que já existem bastantes
Palavras:
A palavra esquecida na ponta da língua
O amor que se perdeu
Quando palavras não bastam, o etc e o depois do etc.

De todos, o que vem de você é o mais corrosivo:
O aceno de até nunca mais
Interdito em você
- Faltou-lhe coragem, ou vontade,
Faço-o mais suave,

Encubro seu silêncio com este poema de mierda
E digo tchau.

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