10/06/2010

Coração puxando seus olhos pro lado como um ímã. A alma – âncora, o intelecto à deriva, sem chão, navegando sobre a palavra pura, indefinível entre o puro sentido e a pura tagarelice. A criança que vê a fotografia e sabe que não é mais, acaba de entrar no tempo. O tempo é amor que não se completa, encoberto por palavras que fingem saber que o abismo não está tão sob nossos pés quanto parece. Toda palavra é desperdício diante do blues profundo, do precipício pra onde a alma pende ao buscar sua cota de alegria. Não há lição a ser extraída do verbo dos doutores. O coração quer se virar de lado, olhar de frente pra onde o silêncio vem a ser, no máximo, um jeito de dois braços se tocarem, indiferentes como uma nota de rodapé em branco, sublinhando o fato de que todas as palestras são desnecessárias. E nós não temos ainda nem o essencial. Mas, sigamos falando, despejando conceitos contra a cidade-fantasma, contra os túneis-trincheiras, onde tudo o que existe é sombra, onde a luz vem de dentro dos corpos mudos, cobertos de melancolia. A beleza é a mais estranha das forças.

Um comentário:

Aldemar Norek disse...

Oi, Daniel. O poema aí de cima escrevi faz uns 3 dias. Estava decantando um pouco, e hoje me deparo com este seu aqui, e me espanto com um certo paralelismo. Como nos trilhos.
Abraço!
aldemar

p.s. - viajei no poema logo abaixo. Vertical.