Lodo nas veias. Veneno parado em animal que se auto-inocula. Veneno que, inoculado em outro, não mata: contagia. A cidade é um grande organismo peçonhento – veneno circula nas suas tubulações.
Parasitas sobre parasitas sobre parasitas sobre parasitas. O universo é um parasita com parasitas em seu ventre com parasitas em seus ventres com parasitas em seus ventres.
Como é triste viver no seu mundo. Sua língua é viscosa, dela saem palavras pesadas que caem e grudam no asfalto. Fala de betume, cosmologia de pesadelo que dura o tempo de sua aproximação. Boca cheia de parasitas. Que não mata, contagia.
A cidade é um parasita grudado na pele da terra. Você é um parasita que circula sobre a cidade, ao estilo de bicho-geográfico. O ar é um parasita que passeia ao seu redor. O espaço é um parasita que se mistura ao corpo do ar. O universo é um parasita em expansão.
Os parasitas não fazem contrabando de nutrientes. É veneno o que eles procuram. Todo parasita é parasitado por outro parasita. Todo parasita devolve a outro parasita o que dele é parasitado. O veneno circula devagar e o preço da lentidão é a metamorfose do parasita em animal peçonhento. O veneno não mata, contagia.
O universo, quando recoberto pelos avanços de sua fala em expansão, é febrilmente vivo. Nele a morte circula. A forma humana de soltar o veneno é a fala. A fala envenena o ar. O ar pesado devolve, sob a forma de sombra viscosa e lenta, betume da linguagem, o veneno que nele foi inoculado sob a forma de palavras. O ar é uma dura carapaça recoberta por palavras venenosas, quando passeia sobre sua pele.
Neste universo particular, parasitário e envenenado: o cosmopolitismo do podre. Deus tomou um ácido e o universo inteiro é sua bad trip.
2 comentários:
Você anda místico, Daniel.
Lembrei daqueles sufis.
Abração.
Sim, mas esqueci de dizer que gostei muito, muito mesmo.
Mais um abraço!
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